88º 
                ANIVERSÁRIO DE GLÓRIAS E CONQUISTAS DO TIRO ESPORTIVO 
                DO FLUMINENSE
                
                No dia 03 de agosto de 1919, numa bela manhã de domingo, 
                era inaugurado o stand de tiro do Fluminense Football Club com 
                a realização de duas provas de revólver, 
                a 25 e 50 metros, e uma prova de fuzil a 50 metros. O responsável 
                por esta obra foi um jovem advogado, nascido em Macaé em 
                1892, que mais tarde se notabilizaria no mundo esportivo por ter 
                obtido a primeira medalha olímpica para o Brasil, em 1920 
                na Antuérpia. 
                
                Dr. Afrânio Antônio da Costa – Diretor de Tiro 
                - conseguiu convencer o Presidente do Fluminense – Dr. Arnaldo 
                Guinle – sobre a importância de construir um stand 
                de tiro, localizado em uma área nobre do clube, próximo 
                da piscina e do ginásio. A fachada do stand foi construída 
                seguindo a mesma linha clássica da piscina e no seu interior 
                havia uma sala de estar, uma para apuração de alvos, 
                e seis boxes (postos) de tiro com trincheiras para as distâncias 
                de 25 e 50 metros.
                
                Até parecia que o Dr. Afrânio estava adivinhando 
                o futuro glorioso do stand, pois, nas suas linhas foram formados 
                inúmeros atiradores que se destacaram no início 
                do tiro brasileiro. Dentre outros, destacamos o próprio 
                Afrânio, que treinou arduamente durante um ano para brilhar 
                nos Jogos Olímpicos da Antuérpia em 1920, conquistando 
                a medalha individual de prata na prova de pistola livre e a de 
                bronze por equipe na prova de revólver. Neste stand, também 
                treinou o Tenente Guilherme Paraense, preparando-se para realizar 
                a façanha inusitada: conquistar a primeira medalha de ouro 
                olímpica para o Brasil.
                
                Por tudo isso, o antigo stand do Fluminense representou um marco 
                histórico na vida do Tiro Nacional, sendo o grande responsável 
                pela formação de vários atiradores tricolores, 
                proporcionando bases sólidas para a inauguração 
                da Federação Brasileira de Tiro em 1923.
                
                Nos Jogos Atléticos Sul-Americanos, em 1922, na primeira 
                prova internacional de tiro realizada no Brasil, no stand do Fluminense, 
                mais uma vez Afrânio e Paraense brilharam, vencendo os fortes 
                concorrentes sul-americanos.
                
                Em 1934, sob a presidência de Oscar Costa, o pequeno stand 
                de tantas vitórias alcançadas, foi substituído 
                pelo atual. O qual foi construído na subida da montanha, 
                num terreno do Palácio Guanabara, adquirido do Governo 
                do Distrito Federal, com recursos próprios dos atiradores 
                do clube, que se uniram e se cotizaram para a consecução 
                deste objetivo. 
                
                O stand, considerado para os padrões da época, moderno, 
                espaçoso e tecnicamente completo por possibilitar competições 
                simultâneas a 25 e 50 metros, foi idealizado e construído 
                pelo engenheiro civil, Salvador Trindade. Trindade, carabineiro 
                e atleta do FFC, além de engenheiro experiente, foi um 
                grande atirador, ostentando até hoje o título do 
                carabineiro brasileiro melhor classificado em Jogos Olímpicos, 
                pelo seu quinto lugar nos Jogos de Berlim (1936). Essa colocação 
                foi obtida com 296 pontos, empatado com o 2º, 3º e 4º 
                colocados, perdendo a medalha de prata pelo critério utilizado 
                na época pela então UIT (hoje ISSF): ter o impacto 
                de valor nove, mais afastado do centro.
                
                Pois bem, todos esses fatos vividos há 88 anos, foram especialmente 
                lembrados pela atual Diretora de Tiro do Fluminense – Angelamaria 
                Rosa Lachtermacher – detentora de duas medalhas de bronze 
                nos Jogos Pan-Americanos de Havana, que se esmerou e trabalhou 
                muito na organização e na condução 
                do evento. Como habitual, proporcionou uma linda festa de confraternização 
                e congraçamento, no último sábado 22 de setembro, 
                reunindo toda a diretoria do clube, atiradores tricolores do presente 
                e do passado, dirigentes, árbitros e convidados, no stand 
                de tiro do Fluminense.
                
                Sem dúvida, foi uma feliz iniciativa da Angelamaria, que 
                além de prestar uma justa homenagem ao grande dirigente 
                e atirador Dr. Afrânio Costa, responsável pela criação 
                do primeiro stand do Fluminense e da primeira medalha olímpica, 
                relembrou os feitos de vários atiradores tricolores que 
                se destacaram no cenário nacional e internacional. O tributo 
                aos grandes atletas do clube, ficou materializado em uma linda 
                placa com seus nomes e principais resultados, que foi descerrada 
                pelo atual Presidente do Fluminense, Dr. Roberto Horcades.
                
                Entre várias outras homenagens, foi organizada uma galeria 
                com o nome do Dr. Afrânio Costa, incluindo várias 
                fotos e recortes de jornais da época, gentilmente doados 
                pelos seus sobrinhos Arnaldo Henrique Muniz e Cristina Balthazar 
                Silveira Sampaio Ferraz, acompanhada por seu filho Arthur Eduardo 
                Moura da Cunha – sobrinho bisneto. Para enriquecer a galeria, 
                foram expostas as famosas armas de competição, sobressaindo 
                a pistola livre suíça com a qual Afrânio conquistou 
                a medalha de prata na Antuérpia/Bélgica. Essas armas 
                e medalhas pertencem hoje ao acervo histórico do FFC, graças 
                à doação feita pela Sra. Juracy Costa, viúva 
                de Afrânio. 
                
                Constou, também, da programação, a realização 
                de uma prova de revólver precisão, sendo encerrada 
                as inscrições às 10:45 hs, a exemplo do que 
                ocorreu há 88 anos, inscrevendo-se mais de 38 atiradores, 
                destacando-se, entre outros, grandes campeões do passado 
                como: Paulo Raulino Lamego, medalha de bronze individual e prata 
                por equipe no Campeonato Mundial de Seul; Delival da Fonseca Nobre, 
                4º classificado nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 
                em 1984 e Sílvio de Souza Aguiar Carvalho, medalha de prata 
                nos Jogos Pan-Americanos de Porto Rico em 1979 e prata e bronze 
                nos Jogos de Caracas em 1983.
                
                O campeão da Prova Comemorativa dos 88 anos de tradição 
                e glórias do Tiro Tricolor foi o atirador Antonio Vaghi, 
                com 91 pontos (máximo de 100), seguido por Silvio Aguiar 
                que obteve a medalha de prata totalizando 90 pontos. A prova foi 
                disputada em categoria única, como na época, e Gisele 
                Machado, com 89 pontos ficou com bronze, com a coloração 
                do ouro, por se tratar de uma atleta tricolor iniciante e com 
                futuro promissor. 
                
                Convém ressaltar a importante participação 
                do atleta Sílvio Aguiar, atualmente se revelando como um 
                grande técnico da Confederação e do Fluminense, 
                auxiliando a Angelamaria na direção da prova. 
                
                O ponto alto da festa foi o anúncio oficial, feito pelo 
                Presidente do Clube, da criação do Centro de Excelência 
                do Tiro Esportivo Silvino Fernandes Ferreira, nome dado em homenagem 
                ao antigo funcionário do stand na década de 40 e 
                que mais tarde tornou-se campeão brasileiro de tiro e diretor 
                do stand do Fluminense. Angelamaria, Silvio Aguiar e outros antigos 
                discípulos do Mestre Silvino, prestaram-lhe essa linda 
                e oportuna homenagem.
                
                Discursaram: Ricardo Pereira Martins, Vice-Presidente dos Desportos 
                Olímpicos do FFC, apoiando e incentivando os novos projetos 
                da Diretora; Paulo Bandeira de Mello, campeão de tiro, 
                representando a Federação de Tiro Esportivo do Rio 
                de Janeiro; Heraldo Ribas Presidente da Confederação 
                Brasileira de Tiro Prático e Eduardo Ferreira, ex-atirador 
                tricolor e filho do homenageado. 
                
                O Presidente do Fluminense, discursando por último, enalteceu 
                o trabalho da Diretora Angelamaria declarando o seu apoio a todos 
                os projetos apresentados pelo Departamento de Tiro, em especial 
                ao Centro de Excelência de Tiro Esportivo – CETE. 
                No seu discurso, Dr. Horcades oficializou também o retorno 
                ao Departamento de Tiro da área atualmente ocupada pela 
                sauna, local onde será instalado o CETE, que brevemente 
                será uma referência nacional na formação 
                e desenvolvimento técnico de novos atletas. Em seguida, 
                descerrou a Placa Comemorativa com o nome dos atiradores que compõem 
                a Galeria de Honra e dos Destaques tricolores desses 88 anos de 
                glória.
                
                Foi uma auspiciosa festa tipicamente tricolor e que ficará 
                na memória dos mais jovens, como fonte de inspiração, 
                não só a estes, mas à todos atiradores tricolores. 
                
              
              
                 
              
                por Eduardo Ferreira
                Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE 
                e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação 
                do DF, ex presidente das federações do RJ e CE, 
                e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma 
                Longa" e "História do Tiro"
                ferreiraedu@terra.com.br