Aos
alunos do CETTE – Centro de Treinamento de Tiro Esportivo
do Fluminense Football Club e demais atiradores.
Hoje,
como atleta, instrutora e Diretora do Tiro FLU, sinto-me
na obrigação de intensificar a divulgação
das informações e experiências reunidas
por campeões, as quais você cuidadosamente
irá estudar e encontrará ajuda para ampliar
seu desempenho.
Em 1983 a pedido do nosso Grande Benemérito Atleta
do FFC, Luiz de Freitas Novaes, o presidente da CBTA –
Hugo de Sá Campello Filho, trouxe da Alemanha o livro
do campeão de tiro soviético MAKHMOUD UMAROW,
médico ligado à psicologia esportiva, formado
pela Academia Militar de Medicina, aliava seus dotes esportivos
ao intenso trabalho pedagógico.
Promoveu pesquisas e publicou vários artigos, que
foram considerados de grande importância para a Seleção
Soviética e Atiradores Desportivos.
O livro “A PSIQUE DO ATIRADOR” foi entregue
à comunidade do Tiro do Brasil, em 1987, como mais
um apoio indispensável à formação
do atirador de competição. Gestão do
Cel. Hugo de Sá Campello Filho, época em que
alguns atiradores eram felizes e não sabiam.
DISTRAÇÃO: A INIMIGA DO CAMPEÃO
Na competição, alguns atiradores iniciantes
encontram-se sob tensão nervosa e aumento de capacidade
de reação, produzidas pelo senso de responsabilidade
e emoção.
Os
vários fatores que contribuem para uma diminuição
do desempenho manifestam-se, sobretudo, de duas formas:
1-
Por um lado, pelo desvio da atenção dirigida
para a visada e para o disparo calmo no momento exato;
2-
Por outro, pelo aumento do nervosismo de competição.
Para
reduzir estes fatores negativos, é necessário:
primeiro, usando a força de vontade, concentrar-se,
nos fundamentos necessários, ou seja, na técnica
do tiro; segundo, ampliar a experiência da competição
desportiva, aumentando, assim, a capacidade de não
se deixar influenciar pelos fatores negativos que possam
tirar à calma.
_______________________________________________________________
Existem também muitos outros fatores que
pioram a concentração:
·
Influência do nervosismo pré-competitivo:
Se fosse possível a abstração do motivo
da competição, que vai haver um resultado,
que há pessoas interessadas no número de pontos,
etc., o atirador conseguiria atirar tão bem e calmamente
como no treino.
Os resultados da maioria dos atiradores decrescem assim
que no seu pensamento toma forma que o resultado será
computado.
Desse
momento em diante, desaparece a calma, surgem inibições,
medo antes do atirar e outras perturbações
que trazem a diminuição dos resultados.
·
Distrações ambientais e influências
de assistentes.
Há muitas influencias externa, do meio-ambiente que
atuam com mais força e mais rapidamente. A mais importante
é a presença dos espectadores que, apenas
com ela, influenciam e contribuem para o nervosismo do atirador.
Pode
acontecer até que um atirador inexperiente se torne
incapaz de atirar bem, pela simples presença de espectadores.
Tal reação dependerá das características
próprias de cada atirador.
Um atirador que não esteja acostumado a público
pode ter a impressão que o mesmo se interessa especialmente
por seu resultado, o que aumentará muito seu nervosismo.
Esse pensamento persegue, insistentemente, o atirador, distrai
sua atenção da competição, perturbando
seu desempenho.
Um atirador tímido, modesto, inibido, sofre maior
influência da presença de espectadores. Conhecem-se
casos de atiradores que em campeonatos disparam tiros ruins
apenas por observações de terceiros.
Se a atenção no disparo for distraída
é de conhecimento geral que não se pode
atirar bem.
Desvie
sua atenção dos espectadores – Desligue-se
da vizinhança.
Espectadores influenciam o ambiente não só
com sua presença como também porque fazem
barulho, conversam e fazem observações.
Isso influencia, sobremaneira, o atirador, quando pensa
que a opinião é contrária a ele. Reage,
então, com grande sensibilidade e até doentiamente
a cada observação do espectador, achando que
se refere a ele. Dessa forma, é necessário
e até imprescindível que durante a competição
o atirador desvie a sua atenção dos espectadores.
Como
por exemplo, podemos citar o, várias vezes campeão
mundial de carabina, Wassilj Borisov que entra no stand
completamente concentrado.
Até aí ele concentra seus pensamentos apenas
na disputa que se apresenta, fica sozinho, parece ensimesmado,
afasta-se de curiosos e não conversa.
Durante a prova não se deixa abstrair com
o cenário da competição, quase
não se vira e se desprender completamente da vizinhança.
Presença de espectadores é natural.
Faz parte da competição.
O acostumar-se a assistentes é muito natural. Faz
parte da competição.
Muitas
vezes o atirador acostumado a espectadores não se
deixa influenciar e até mesmo os ignora, como podemos
observar:
Jassinski
conta que ao ganhar o campeonato europeu de 1955 de pistola
livre onde bateu o recorde mundial com 566 pontos, nem mais
se apercebia da presença de estranhos, nem de onde
se encontrava. Esse estado de espírito aliado à
grande concentração possibilitou a excelência
do resultado. Essa concentração em campeonato
não seria possível, ou pelo menos seria dificultada,
caso o atirador não estivesse acostumado à
presença de espectadores, ou seja, caso ele não
tivesse experiência de disputas.
Quando o atirador se acostuma à presença de
espectadores, isto se torna um fato positivo. Sua presença
torna-se fator necessário e animador.
Eles animam o atirador, obrigam-no a iniciar
a competição com toda energia e
a procurar o sucesso.
Praticamente conhecem-se casos de atiradores que em campeonatos
disparam tiros ruins apenas por observações
de terceiros.
Se a atenção no disparo for distraída
é de conhecimento geral que não se pode
atirar bem. Se a atenção no disparo
for distraída é de conhecimento geral que
não se pode atirar bem.
Fatores
nocivos que interferem nos resultados:
·
Sucesso nos tiros - Outro motivo para resultados
menores em competição é o sucesso
nos tiros. Desde que vá tudo bem, o atirador não
deve relaxar. Se não tomar cuidado será
presa fácil.
·
Tiro regular - O tiro regular diminui a tensão
e acalma. Todo atirador tem que prestar muita atenção
até o último disparo.
·
Caça ao dez - Na caça do dez o
atirador se esquece que os tiros têm que ser disparados
com precisão. A necessidade de acertar
um dez no alvo também leva a perda da atenção
no que dificulta a obtenção do
resultado. É necessário tomar todas as medidas
até o disparo.
·
Desânimo - O mal resultado de um tiro decepciona
e surpreende o atirador e estraga sua disposição.
Se isso acontecer mais vezes pode até ser dominado
pelo desânimo.
·
Pressa em disparar – Não se deve
ter pressa em disparar, enquanto outros pensamentos ocuparem
a mente.
·
Tiros ruins – Não se deve perder
a disposição se o resultado dos tiros não
é bom, nem perder a calma ou falhar. É necessário
analisar friamente o motivo do erro e procurar não
repeti-lo. Um, dois, três ou até mais tiros
ruins podem ser consertados até o final da disputa
se o atirador não perder seu autocontrole e perseguir
o bom resultado. É condição
para a vitória que o atirador tenha autoconfiança
durante todo o tempo da competição.
·
Problema no mecanismo de disparo – O resultado
do atirador num torneio também pode ser prejudicado
quando houver algum problema no mecanismo de disparo.
Os movimentos do atirador tornam-se contraídos,
por demais cautelosos e a atenção será
perturbada pelo temor de um disparo acidental. Para afastar
esse temor negativo é necessário
que a arma esteja sempre em perfeitas condições.
Também é aconselhável não
regular o gatilho para muito leve. Um disparo muito rápido
leva o atirador a muito cuidado, o que é prejudicial.
O medo de que a arma no momento do tiro possa desviar
“gatilhar”, pode ser motivo de péssimos
resultados, o pensamento de que a arma no momento do tiro
possa se desviar do alvo traz tensão ao atirador.
O tiro é retardado, a tensão muscular diminui,
a situação estável da arma
é perdida. Se o tiro partir nessa situação
ele realmente será ruim.
Não
se deve dar tiro algum quando houver a mais leve dúvida
de que não sairá perfeito.
Pense
no ato de disparar, sem pensar no valor do tiro dado.
Praticamente conhecem-se casos de atiradores que em campeonatos
disparam tiros ruins apenas por observações
de terceiros.
Se a atenção no disparo for distraída
é de conhecimento geral que não se pode atirar
bem.
_______________________________________________________________
Algumas emoções que prejudicam o resultado:
“O
corpo reage de acordo com a mente”
Muitas
vezes se observa a queda de resultado do atirador, em meio
a uma competição. Deve-se procurar o motivo
na mente do atirador.
INSEGURANÇA
· Insegurança ao disparar
– A insegurança também ocorre quando
os impactos não estão onde o atirador julga:
surge à insegurança ao disparar, o atirador
fica irritado; perde a confiança na sua arma, na
munição e em si mesmo.
·
Tiros azarados – A insegurança também
ocorre quando há tiros azarados logo no início
da competição, na maioria das vezes, por
pressa e falta de concentração.
·
Pane de dedo – Quando há desarmonia
no movimento (demora no ato do disparo), que pode ocorrer
por inibição no sistema nervoso
central. Essa desarmonia se revela no retardo
do tiro – demora no movimento de disparar. Isso
acontece quando a arma está parada no alvo e o
tiro não sai. O dedo “não aperta”
o gatilho. O tiro sai atrasado quando a arma já
não está estável. Como reação,
ocorre insegurança no atirador.
MEDO
·
Medo de um erro no tiro – Se o
atirador tiver esse pensamento, geralmente o próximo
tiro não será bom, pois
a concentração foi quebra. Isso é
fácil de explicar, pois o corpo reage de
acordo com a mente. O medo do disparo também
pode ser sinal de cansaço. Ao perceber esse sinal
o atirador deve parar, descansar e procurar reencontrar
a autoconfiança por auto-sugestão
Se o cansaço aumentar e, consequentemente, decair
o resultado dos tiros, na maioria dos casos, instintivamente,
aparece o desejo de parar de atirar.
Infelizmente, esse desejo nem sempre é seguido
e continua-se achando que “deve dar”.
· Luta com a falta de tempo -
A atenção do atirador também pode
ser desviada pelo medo da FALTA de tempo. Não é
possível atirar-se bem, quando se tem presente
no pensamento sob essas condições só
é alcançado por acaso. Há muitos
exemplos de bons atiradores com resultados baixos, somente
pela FALTA do tempo que, indubitavelmente leva o atirador
ao desvio da concentração e como consequencia
os tiros não são mais dados com atenção,
porém, negligentes e apressadamente.
Referência: Psique do Atirador – M. Umarow.
Angelamaria Rosa Lachtermacher
Grande Benemérita Atleta
Instrutora de Tiro
“Está
provado que não existe pensamento que não
influa no corpo”
continua.
|