QUADRO
DE ANÁLISE DE TIRO DE ARMA CURTA
Wyanet
Enterprises – Revista O Tiro DA CBTA - 1977
(Tradução
do atirador Paulo Sérgio Carvalhães e Souza)
Este
é um artigo muito interessante extraído da revista “O Tiro”, editado
pela antiga Confederação Brasileira de Tiro ao Alvo (CBTA), em
1977, e que ainda hoje pode ser útil na aprendizagem dos atiradores
iniciantes e juniores sobre fundamentos técnicos, onde o autor
apresenta um quadro elucidativo, analisando os diversos tipos
de grupamentos, causados por falhas diversas, e a maneira correta
de corrigí-las.
- INTRODUÇÃO
O
primeiro passo para se obter a melhor precisão no uso de arma
curta é entender, antes de mais nada, alguns itens básicos sobre
o tiro. Atingir o “x” da zona do10 no seu alvo é tão fácil quanto
apontar com o dedo para um relógio de parede. Experimente fazer
isso: constatou que é muito fácil. Então, por que razão, num estande
de tiro torna-se tão difícil apontar para o alvo? Se você entender
a resposta a essa pergunta irá aprimorar a sua técnica e tornar-se
um campeão de fato.
Quando
você aponta o seu dedo para o relógio, ele não dá recuo e nem
fumaça. Portanto aí reside o problema. Qualquer ser humano sofre
as influências do estampido e do choque (salto) de um tiro de
arma curta. É essa influência que dificulta a sua habilidade em
obter a precisão. Antecipar o disparo com o estampido é o principal
fator que causa um desempenho negativo no tiro ao alvo.
Você
já notou como é que os atiradores veteranos disparam suas armas.
Eles atiram naturalmente sem maiores esforços. Desprovidos de
receios ou de antecipações do subconsciente, eles já descobriram
o segredo. Você também tem que compreender que o estampido e o
choque (salto) da arma são os fatores que tornam o tiro ao alvo
um dos esportes mais antigos e de maior difusão no mundo inteiro.
- COMO
FUNCIONA O QUADRO DE ANÁLISE
Tanto
os instrutores de tiro como os próprios atiradores experientes
já descobriram que uma série de tiro falhos, numa determinada
área do alvo, indicam a existência de um erro definido e específico
por parte de um atirador. A causa do erro será indicada exatamente
pelo setor do alvo atingido por esses disparos fora do centro,
denominados “tiros escapados”.
Todos
os tiros disparados sobre o seu alvo de ensaio atingirão algum
dos oito setores no quadro de análise. A simples leitura desse
quadro lhe informará o que você fez para que o seu tiro atingisse
aquele setor. É quase impossível tentar analisar os seus tiros
ao mesmo tempo em que você dispara. O “choque” da arma tende a
bloquear sua visão, impedindo-o de verificar o que aconteceu imediatamente
antes de disparar. Evidentemente, para utilizar corretamente o
seu quadro de análise, temos de presumir que a sua arma está com
a mira devidamente regulada para o centro do dez.
- A
LEITURA DO SEU QUADRO DE ANÁLISE
O
seu quadro está provido de abreviaturas codificadas, que lhe ajudarão
a interpretá-lo sem maiores problemas. Agora vamos examinar a
sua divisão em setores, para descobrir qual o erro do seu disparo,
quando os seus tiros se agrupam repetidamente em um determinado
setor do alvo. Caso você seja canhoto, devem-se inverter todas
as posições.
a.
Espalmar - (ESP)
Os
tiros que atingem a parte superior direita do seu alvo, entre
01:00 e 02:00hs, do quadro de análise, mostra que você está “espalmando”
a arma. Esse tipo de antecipação demonstra que o atirador está
empunhando a arma com força demasiada durante o momento do disparo
em que aperta o cabo da arma para dentro da palma da mão. Isso
causa a elevação da massa de mira para cima e para direita.
ESP
Esse
erro comum pode ser corrigido simplesmente se você mantiver uma
pressão constante ao empunhar a sua arma durante toda a seqüência
do seu disparo. Você não pode modificar alternadamente a pressão
de sua empunhadura enquanto aguarda ansiosamente o comando de
disparo. Concentre-se no alinhamento das miras e mantenha uma
pressão igual e firme na empunhadura até depois de ter
efetuado o disparo. Um bom acompanhamento (follow trough)
é muito importante, se quiser evitar que os seus tiros continuem
atingindo esse setor do alvo.
b.
Inclinação da arma (INC)
Muitos
atiradores nunca repararam no fato de que estão inclinando a arma
para o lado direito enquanto alinham as miras. Isso é geralmente
causado pela pressão do polegar sobre o lado direito da arma.
Quando ocorre o disparo, essa pressão fará com que o tiro “caia”
para o lado direito do alvo, ou seja, no setor das 02:00 às 04:00hs
do quadro de análise.
O
seu polegar oferece um grande auxílio na correção do alinhamento
das miras. Deverá exercer a mesma pressão sobre o lado esquerdo
da arma que a base do dedo indicador exerce sobre o lado direito.
Todas as forças empregadas devem ser equivalentes. Uma empunhada
incorreta causará disparos desiguais.
INC
Lembre-se
de que a única parte da sua mão que deverá se mover durante toda
a ação do disparo é o dedo do gatilho. Qualquer outro movimento
provocará um tiro incorreto.
c.
Estrangulamento
A
maioria dos atiradores iniciantes comete o erro de empunhar a
arma com excesso de força. Um atirador que empunha a arma com
força de um “torno de bancada” encontrará seus tiros todos agrupados
no setor entre as 04:00 e 05:00hs. À medida que o disparo é efetuado
com uma empunhadura “estrangulada”, o cano tenderá a desviar-se
para baixo e para direita.
EST
A
solução para esse problema da empunhadura “estrangulada” é muito
fácil se você compreender que empunhar uma arma com demasiada
força é totalmente desnecessário para se obter um bom tiro. A
arma deve “repousar” confortavelmente em sua mão. Exerça apenas
a pressão de empunhadura suficiente para lhe assegurar o controle
da mesma. Retesar os músculos excessivamente, transformando a
sua mão num “torno” causará o cansaço prematuro, além de outros
fatores que prejudicam a precisão. Uma empunhadura firme, com
a ajuda de todos os dedos, lhe ajudará a obter ótimos resultados.
Igualdade de empunhadura e consistência durante toda a seqüência
do disparo eliminarão a ausência de precisão causada pela empunhadura
errada.
d.
Torção do pulso
Aqui
temos outro exemplo de um problema causado pelo receio do recuo.
O atirador descobre que muitos de seus tiros se concentram no
setor das 05:00 às 07:00 hs de seu quadro. Provavelmente está
inclinando a arma para baixo ou torcendo o pulso no momento do
disparo. Isso é causado pela antecipação do recuo. Em outras palavras,
o atirador tenta conter o recuo ou tenta diminuir ou compensar
o recuo da arma, inclinando-a para baixo.
TOR
Neste
caso, a chave do problema é obter um “follow trough” correto.
Acompanhar o tiro (follow trough) não se restringe a manter corretamente
a empunhadura, acionamento do gatilho e o enquadramento do alvo
durante o disparo, e sim que todos esses fundamentos têm que ser
controlados mesmo depois que o disparo tenha sido efetuado e que
a arma já deu o “salto”. O salto é a última experiência na emoção
de um disparo... devemos apreciá-lo com prazer.
e.
Gatilhada
O
ato de acionar o gatilho para trás de uma forma rápida demais,
é um erro chamado de “gatilhada” e fará com que os tiros atinjam
a parte inferior esquerda do alvo. Quando aparecem muitos tiros
neste setor você pode ter certeza que você puxou o gatilho para
trás muito depressa, de uma forma brusca, para apressar o disparo.
GAT
Quando
se consegue um correto alinhamento das miras, isso não é um sinal
de que seu dedo deva acionar o seu gatilho imediatamente, antes
que aconteça algo. Quando as miras estão alinhadas, seu cérebro
deverá comandar para o dedo indicador uma pressão constante e
uniforme sobre o gatilho. A maior parte da sua concentração deverá
estar focada no aparelho de pontaria: além disso, o acionamento
do gatilho é o segundo aspecto mais importante no disparo da arma.
Atirar “em seco” poderá lhe dar uma grande ajuda. Você
poderá eliminar o estampido e o salto, concentrando-se totalmente
num acionamento de gatilho lento e constante.
f.
Dedo do gatilho
Os
atiradores demonstram uma tendência a subestimar a importância
da correta colocação do dedo sobre a tecla do gatilho. A maioria
dos atiradores introduz demasiadamente o dedo do gatilho (indicador)
no “guarda mato” da arma. Isso faz com que os tiros atinjam a
parte esquerda do alvo, ou seja, o setor das 08:00 às 10:00hs
do quadro.
DED
O
meio da falangeta deverá repousar sobre o centro da tecla do gatilho.
Se, ao início, isso lhe parecer desconfortável, essa sensação
logo irá desaparecer quando você verificar a melhoria rápida de
seus resultados. Outro fator muito importante a respeito do acionamento
do gatilho é o seguinte: ele deverá ser puxado diretamente para
trás e no prolongamento do seu antebraço. Se qualquer pressão
for aplicada lateralmente, por menor que seja, os tiros voltarão
a atingir o setor das 08:00 às 10:00hs.
g.
Antecipação do recuo
Um
atirador que, ao mesmo tempo, aciona o gatilho e aguarda o “salto”,
invariavelmente acabará por se antecipar ao salto. Isso acontece
ao se erguer o cano da arma antes de ocorrer o disparo. O atirador
que demonstra “ajudar” a arma no seu salto verificará que seus
tiros irão atingir a parte superior esquerda do alvo, ou seja,
o setor das 10:00 às 11:00hs do seu quadro.
ANT
Para
corrigir esse problema carregue sua arma deixando algumas câmaras
vazias. Dispare a arma sem saber quais as câmaras que estão com
cartuchos. Você se surpreenderá ao perceber que está se antecipando
ao salto, quando disparar sobre uma câmara vazia e constatará
a mira subindo para a esquerda. A chave está no correto follow
trough observado. Efetue o disparo sem perturbar nenhum dos fundamentos
de precisão. Esqueça-se do “salto”. Acione o gatilho para trás
lentamente e deixe que o disparo lhe surpreenda. Se você estiver
ciente do exato momento em que a arma for disparar estará se antecipando
ao “salto”.
h.
Sobressalto
O
sobressalto é o sintoma menos compreendido pelo atirador iniciante.
Algumas pessoas sem muito controle emocional tremem na ocasião
do disparo. Outros atiradores tremem apenas com a cabeça, mão
ou piscam os olhos. Geralmente um disparo acompanhado do sobressalto
jogará o tiro na parte superior do alvo, ou seja, no setor das
11:00 às 01:00hs do quadro.
SOB
O
sobressalto é uma tendência nervosa de antecipação, que ocorre
quando você aciona o gatilho e o seu corpo ainda não está preparado
para tal. Mais uma vez, carregando alternadamente as câmaras de
sua arma ou colocando estojos deflagrados em seu carregador, será
mais fácil observar o que está ocorrendo. Quando você realmente
puder visualizar o seu sobressalto estará começando a controlá-lo.
Verifique
a posição do cano quando escutar o estalido de um disparo inesperado
sobre uma câmara vazio. Vai ver e sentir todo o seu corpo reagir
ao que você pensava que iria acontecer se tivesse realmente ocorrido
um disparo. Antes de atirar, tome um gole d’água ou leia algo.
Experimente chegar cedo ao estande de tiro ... fique tranqüilo.
A ansiedade é o seu maior concorrente. O tiro ao Alvo é um esporte
de precisão e de controle muscular. Os seus músculos não lhe permitirão
um tiro preciso se estiverem todos tensos ou cansados.
Agora
que você conhece o significado de cada setor do seu quadro, já
está em condições de passar à prática. Leve o quadro de análise
para o estande de tiro. Talvez prefira cola-lo ao lado da sua
maleta de tiro onde transporta a sua arma. Examine-o e estude-o
antes de iniciar o treinamento. Basta o simples conhecimento do
significado do quadro para que você possa aprimorar a sua perícia
no Tiro.
Comece
a efetuar séries de cinco disparos sobre o seu alvo. Compare os
resultados com o quadro de análise. Veja quais são os seus erros
e efetue as correções necessárias. Se os seus tiros estão espalhados
sobre toda a superfície do alvo é sinal de que você precisa de
maior treino, até que obtenha um grupamento mais fechado. Quando
conseguir isso, desloque esse agrupamento para dentro da parte
preta do alvo, consultando o quadro de análise e concentrando-se
naquilo que não deve fazer. Seguindo passo-a-passo as instruções
acima, corrigindo individualmente cada segmento do quadro, você
estará em condições de disparar com a mesma facilidade com que
aponta o seu dedo para um relógio de parede.
por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE
e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação
do DF, ex presidente das federações do RJ e CE,
e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma
Longa" e "História do Tiro"
ferreiraedu@terra.com.br