TIRO
TRICOLOR
1ª
PARTE – 1919 a 1950
O
Tiro Esportivo é um dos esportes olímpicos mais tradicionais e
respeitados pelas principais entidades desportivas mundiais, sendo
praticado por mais de 150 países e em todos os continentes. Suas
principais características são: precisão, reflexo, concentração
e alta técnica desenvolvida pelos atletas. No Brasil, o Tiro Esportivo
conta mais de 100 anos de gloriosa existência, e que teve um dos
seus alicerces apoiado no Fluminense Footbal Club.
O
Tiro já era praticado no Rio de Janeiro desde o início do século
XIX por militares que participavam de provas no estande da Vila
Militar e a partir de15 de maio de 1914 no aprazível Revolver
Club, localizado na Lagoa Rodrigo de Freitas. O Revólver Club
foi o primeiro clube voltado para o Tiro esportivo no antigo Distrito
Federal. Nele surgiram vários bons atiradores e entre eles o
jovem advogado Dr. Afrânio Antônio da Costa, estimulado pelo presidente
do clube Alberto David Pereira Braga.
Com
o declínio do Revólver Clube, iremos encontrar na figura do grande
benemérito Dr. Afrânio o aparecimento do esporte do Tiro no Fluminense.
Grande amigo do ilustre Presidente Arnaldo Guinle, outro grande
desportista e patrono do Fluminense, Afrânio com muita visão e
determinação conseguiu convencer o presidente da necessidade de
também se construir um local para o Tiro. Dr. Arnaldo, eleito
em 18 de abril de 1916, desde que assumiu deu início a construção
de inúmeros espaços para a prática de modalidades olímpicas no
clube; estádio de futebol, ginásio, quadras de tênis e piscina.
Assim,
em 03 de agosto de 1919 foi construído um estande de tiro de seis
“boxes” ao lado do ginásio, onde atualmente funciona o bar da
piscina. Dr. Afrânio foi nomeado pelo Presidente Guinle como o
primeiro diretor do “stand” e teve como primeira e principal tarefa
apoiar o treinamento da equipe brasileira que iria participar
dos Jogos Olímpicos da Antuérpia em 1920. Dentre os atiradores
o próprio Afrânio.
Afrânio
foi designado o “capitão da equipe”, pela liderança que mantinha
junto aos demais atletas, e se destacou nas suas funções. Como
é do conhecimento do mundo desportivo, a equipe brasileira de
tiro conquistou as três primeiras medalhas olímpicas para o Brasil.
Afrânio obteve a prata na modalidade de pistola livre – primeira
medalha olímpica – ouro, pelo Tenente Guilherme Paraense e bronze
para a equipe de pistola livre.
No
seu retorno ao Brasil, Afrânio e Paraense foram homenageados,
juntamente com mais dois atiradores da equipe vitoriosa - Dario
Barbosa e Fernando Soledade, pelo Presidente Epitácio Pessoa no
Salão Nobre do Fluminense, recebendo cada um uma placa alusiva
ao grande feito desportivo internacional. Apenas o gaúcho Sebastião
Wolf não estava presente à cerimônia.
Presidente
da República Epitácio Pessoa e seu ministério, Presidente do Clube
Dr. Arnaldo Guinle, homenageando os integrantes da equipe olímpica
de Tiro: Fernando Soledade (bronze), Afrânio Costa (prata e bronze),
Tenente Guilherme Paraense (ouro e bronze) e Dario Barbosa (bronze)
- Salão Nobre do Fluminense -1921
De
volta às atividades desportivas, o “stand” do Fluminense começou
a formar novos atiradores e com o fechamento prematuro do Revólver
Club, passou a ser o único clube a promover o esporte na cidade
do Rio de Janeiro. Várias provas foram realizadas, porém o número
reduzido de “boxes” retardava a apuração dos alvos e, consequentemente,
o final do evento.
Campeonato
Estadual realizado no “stand” do Fluminense - 1931
Em
1922, nos Jogos Atléticos Sul-Americanos, promovidos pelo Governo
Federal em homenagem ao Centenário da Independência, Afrânio e
Paraense iriam novamente brilhar no cenário desportivo nacional
e, juntamente, com o tenente Antônio Ferraz da Silveira, outro
associado do clube tricolor que mais tarde seria o fundador da
Federação paulista de Tiro, competindo com as equipes da Argentina,
Uruguai e do Chile venceram suas provas.
Afrânio Costa e Guilherme Paraense – Antuérpia - 1920
Devido
ao crescimento do número de atiradores, o “stand” do clube acabou
se tornando pequeno. Em reunião com Dr. Afrânio, os atiradores
tricolores propuseram a construção de um novo estande, mais amplo,
moderno e que comportasse um número razoável de atletas. Com recursos
dos próprios atiradores do clube e tendo à frente o engenheiro
e Dr. Salvador Trindade, grande atirador de carabina e que por
pouco não trouxe mais uma medalha olímpica para o Brasil, classificando-se
em quinto lugar, nos Jogos Olímpicos de Berlim, foi construído
em 1934 o atual estande com dois andares, com 20 postos a 25 metros
e mais 20 a 50 metros, funcionando de forma segura e independente.
Grandes
atiradores tricolores do passado: Adhaury Rocha – Harvey Villela
(3º Campeonato Mundial de Buenos Aires) – Dr. Afrânio Costa e
o construtor do novo estande - Dr. Salvador Trindade (5º colocado
nos Jogos Olímpicos de Berlim).
Neste
novo estande, foram realizados vários campeonatos estaduais e
os campeonatos brasileiros de 1937, 1938 e 1940. Os atiradores
da equipe brasileira, muitos deles atletas tricolores, se prepararam
para importantes eventos internacionais como o Torneio Internacional
Brasil X Argentina (1941); Olimpíadas de Londres (1948), Campeonato
Mundial em Buenos Aires (1949), I Jogos Pan-Americanos em Buenos
Aires (1951). Atletas como Harvey Dias Villela, Antônio Martins
Guimarães, José Salvador Trindade, Silvino Ferreira, Álvaro Santos,
Ernani Martins Neves – Evandro Guimarães e Adhaury Rocha.
Dr
Antônio Martins Guimarães (chefe da delegação brasileira e substituto
de Afrânio Costa como diretor de estande do Fluminense) – Major
Sílvio Padilha (Presidente do COB) – atiradores tricolores: Silvino
Ferreira, Álvaro Santos e Alberto Braga
por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE
e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação
do DF, ex presidente das federações do RJ e CE,
e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma
Longa" e "História do Tiro"
ferreiraedu@terra.com.br