A
Família Wolf e o Tiro 4
Após a fundação
do Tiro Nacional em 1899, no Rio Grande do Sul, através
de um trabalho cívico idealizado pelo gaúcho Antônio
Carlos Lopes e inspirado no modelo do serviço militar da
Suíça, o Ministro da Guerra General Hermes da Fonseca
determinou a construção de inúmeras Linhas
de Tiro em todo território nacional, com a finalidade de
incrementar a prática do Tiro ao Alvo e a instrução
militar do Exército Brasileiro.
O modelo já havia
sido adotado pelo país vizinho com bons resultados, no
final do século XIX, com a criação do Tiro
Federal com a sede localizada na cidade de Buenos Aires e com
a disseminação de outros estandes pelo território
argentino.
O Tiro Federal da Argentina
antecedeu a criação da Confederação
do Tiro Brasileiro (CTB), oficializada pelo Decreto No. 1503,
de 05 de setembro de 1906, com sua sede estabelecida na cidade
do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, ficando subordinada ao Estado-Maior
do Exército.
No Brasil, houve muita
reação contra o Serviço Militar obrigatório,
através dos jornais e das famílias de maior renda
que não queriam ver seus filhos fora dos estudos e do trabalho.
No entanto, vozes também se levantaram a favor do Serviço
Militar Obrigatório. Um dos grandes defensores da
criação do Serviço Militar foi Olavo Bilac
que defendia a idéia de que todo cidadão deveria
se apresentar voluntariamente para prestar o serviço militar
e participou de uma grande campanha cívica movida em todo
país.
Para se ter uma idéia
da importância da Confederação Brasileira
de Tiro, em toda a sua existência reuniu cerca de 127 sociedades
(clubes) e filiou mais de 20.000 “atiradores”, nome
dado aos associados, prestando inestimáveis serviços
à Pátria. No Rio Grande do Sul foram construídas
18 Linhas do Exército e 110 pelas Sociedades de Tiro de
origem germânica. A Confederação foi dirigida
pelo Dr Elysio de Araújo e as sociedades foram criadas
em várias localidades do território. Além
do Rio Grande do Sul, foram criadas no Paraná, São
Paulo, Rio de Janeiro e até no Amazonas. Em 15 de novembro
de 1909, foi realizada uma grande parada militar das Linhas de
Tiro na capital da República e organizado o primeiro campeonato
brasileiro de tiro, na Vila Militar, patrocinado pela Confederação.
Mais tarde, em 1917, o
General Hermes da Fonseca resolveu transferir a sede da Confederação
do Tiro Brasileiro para o Rio de Janeiro, instalando-a junto ao
Ministério da Guerra e foi criada a Diretoria Geral do
Tiro de Guerra (DGTG), ficando diretamente subordinada ao Estado-Maior
do Exército. Em razão dessa medida, as sociedades
civis desapareceram, permanecendo somente os Tiros de Guerra.
Remanescente daquele tempo
e ainda hoje se encontra em plena atividade, o Centro Cultural
e Desportivo Tiro 4, originário do Tiro 4, foi fundado
em 24 de fevereiro de 1906 em Porto Alegre pelo Coronel Germano
Steigleder. O Tiro 4 foi o principal clube de tiro do Rio Grande
do Sul, promovendo inclusive os campeonatos brasileiros em 1951,
1962 e 1970, além dos Torneios Sul-Brasileiro e de alguns
eventos internacionais contra as equipes da Argentina e do Uruguai
nas décadas 80 e 90.
O Tiro 4 recebeu muitos
sócios de origem alemã, como Sebastião Wolf,
os irmãos Norberto e Oswaldo Schmidt e muitos outros. Na
sua linha de tiro dois atletas gaúchos se destacaram ao
ponto de serem convocados para integrar a equipe nacional: Sebastião
Wolf e o Dr Dario Barbosa pertenceram à vitoriosa delegação
brasileira que participou dos VIII Jogos Olímpicos de Antuérpia
em 1920, conquistando as primeiras medalhas de bronze por equipe
para o Brasil. Esses dois atiradores formados na linha do Tiro
4 também conquistaram uma medalha de bronze por equipe
em 1910, no Concurso do Centenário da Argentina, realizado
no estande do Tiro Federal Argentino. Na época dos Jogos
Olímpicos da Antuérpia, Sebastião era o mais
veterano e contava 51 anos de idade
Sebastião Wolf venceria
ainda o Campeonato Brasileiro disputado em 13 de setembro de 1915,
no Rio de Janeiro, superando respectivamente Afrânio Costa
e o tenente Guilherme Paraense, medalha de prata e ouro nos Jogos
Olímpicos da Antuérpia. A equipe gaúcha formada
por Wolf, Dr Dario Barbosa, Norberto Schmidt, Oswaldo Schmidt
e João Matuschhesk se sagraria campeã por equipe.
Mais tarde Wolf se tornaria presidente do clube
O Tiro 4 inicialmente estava
localizado no bairro da Floresta. Posteriormente, com o desenvolvimento
de Porto Alegre, mudou-se para o bairro de Terezópolis.
Em cima do seu portão principal constava o seguinte dístico:
“Um esporte útil à Nação”,
com o antigo logotipo da Confederação do Tiro Brasileiro.
Em 1949, o seu diretor era o João Conrado Wolf, filho de
Sebastião Wolf que havia morrido em 15 de março
de 1936, também se tornara um bom atirador e preparou outros
atletas para o clube. Na época o Tiro 4 possuía
dez postos de tiro e contava com cerca de 300 associados participando
ativamente das provas marcadas para os sábados e domingos.
João Conrado Wolf
era uma pessoa muito comunicativa e no seu foto-estúdio
instalado em Porto Alegre, vivia cercado de associados que iam
lá ouvir as instruções técnicas ou
as histórias contadas sobre o Tiro gaúcho. Conrado
era chamado de “mestre” e tinha maior orgulho do seu
pai Sebastião Wolf, ostentando com orgulho e carinho diplomas
e fotos do pai com figuras olímpicas e um quadro com as
inúmeras medalhas conquistadas. Dizia a quem o procurava
que “a sua preocupação era de ensinar aos
moços a arte de atirar bem e sentir-se feliz quando eles
faziam belos tiros”.
Conrado também foi
um bom atirador e incentivado por seu pai iniciou cedo no esporte.
Já em 27 de novembro de 1921, no Grande Campeonato Brasileiro
patrocinado pela Diretoria Geral do Tiro de Guerra e realizado
na Vila Militar, classificou-se em 3º lugar na prova de revólver.
Na prova de revólver do Campeonato Brasileiro em 13 de
novembro de 1937, realizada por correspondência, obteve
o segundo lugar atrás de Harvey Dias Villela. No Campeonato
Brasileiro de 1938, obteve novamente o 2º lugar na prova
de revolver. Em 1951, no Campeonato Brasileiro realizado no Tiro
4, Conrado venceu a prova de revólver 50 metros .
Mantendo viva a tradição
da família Wolf, Arthur Wolf Filho foi também um
excelente e versátil atirador de pistola livre e de carabina
deitado. Em 1958 no Campeonato Brasileiro realizado em Porto Alegre,
Arthur Wolf obteve o 2º lugar na prova de pistola livre.
Em 1959, no Rio de Janeiro, conquistou a medalha de bronze em
pistola livre. Em 1961, 1962 e 1963, novamente Arthur conquistou
a medalha de bronze na mesma prova. Em 1966, no Campeonato Brasileiro
realizado no Rio Grande do Sul, ele se classificou em 3º
lugar na prova de fuzil de guerra. Novamente em 1967 no Campeonato
Brasileiro obteve o 3º Lugar em pistola livre. Foi campeão
gaúcho várias vezes (1971). Em 1973 venceu as provas
de carabina deitado, carabina 3 posições e pistola
livre no III Campeonato Sul - Brasileiro. Venceu as provas de
carabina deitado dos Campeonatos Sul - Brasileiros de 1974, 1975,
1976, 1977, 1981 e 1982.Outros atiradores da família Wolf
que se destacaram no cenário desportivo gaúcho foram
Hermano e Léo Wolf.
O Tiro 4 foi até a
poucas décadas o principal clube do Sul do País
que sediou inúmeros e importantes eventos. O Clube
viveu o seu melhor momento com a gestão do presidente Edson
Garrastazu Almeida, que ampliou e modernizou o estande tornando-o
um dos melhores do Brasil.
1920
– DARIO BARBOSA E SEBASTIÃO WOLF
MEDALHAS
DE SEBASTIÃO WOLF
QUADRO
COM A FOTO DE SEBASTIÃO WOLF
JOVEM
SEBASTIÃO WOLF COM SEU REVÓLVER
WOLF
COM SEU FUZIL DE GUERRA
ANTIGO
ESTANDE DO TIRO 4
por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE
e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação
do DF, ex presidente das federações do RJ e CE,
e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma
Longa" e "História do Tiro"
ferreiraedu@terra.com.br