PROVAS
DE CARABINA NAS DÉCADAS DE 60 E 70
1.
As dificuldades da época
Quem desejasse iniciar a prática do Tiro Esportivo no final
das décadas de 60 e 70 no Brasil e escolhesse um das modalidades
de armas longas, com certeza iria ter que vencer muitos obstáculos
e treinar bastante para desenvolver uma técnica consistente
e alcançar uma posição de destaque no esporte.
Os problemas eram vários e complexos! Inicialmente não
existiam as categorias de damas e juniores que existem hoje. Somente
havia uma categoria de adulto (sênior) e o atirador era
obrigado a competir lado a lado com os grandes nomes da época
e que haviam brilhado nas principais competições
internacionais do passado.
Nomes
famosos como Harvey Dias Villela, Antônio Martins Guimarães
e Armando Braga, Alberto Pereira Braga, Flávio Barbosa
do Nascimento, Adhaury da Costa e Rocha no Rio de Janeiro; João
Sobocinski, Luiz Artigas Martins, Alan Sobocinski, Severino Moreira,
Mário Soubhia em São Paulo e Edmar Vianna de Salles
em Minas Gerais, eram os grandes campeões da época
a serem superados.
Convém ressaltar que a grande maioria desses atiradores
tinha boa vontade e paciência quando solicitados a repassar
alguns fundamentos técnicos e experiências para os
iniciantes. No entanto, eram posições e fundamentos
técnicos antigos e considerados ultrapassados. Somente
no início de 70 o primeiro técnico de arma longa
apareceu no Brasil - o romeno Peter Cemegeau - trazido pelo Presidente
da CBTA Dr. Guimarães. A partir daí, o tiro de armas
longas teve um pequeno desenvolvimento e embora o técnico
Cemegeau tivesse muito boa vontade, ainda empregava os fundamentos
de uma técnica utilizada pelos atiradores russos e do bloco
oriental, técnica essa inadequada para os atiradores brasileiros
que não tinham uma compleição física
semelhante aos europeus e apenas competiam nos fins de semana.
Com a vinda do técnico norte-americano William Krilling
ao Brasil, no final dessa década, ocorreu um salto de qualidade
nos treinamentos e nas provas de armas longas. Os nossos atiradores
tiveram uma nova motivação, utilizando uma técnica
moderna e eficiente e logo os resultados começaram a aparecer.
Outro
grande obstáculo que existia na época era a carência
de munição de qualidade, pois, praticamente não
havia importação de munição e o atirador
era obrigado a competir com a “imprevisível”
CBC cal.22, de cartucho branco, que não raro explodia na
cara do atirador e mais um zero se juntava à sua coleção.
No
Fluminense, o Diretor de Tiro Dr. Guimarães somente repassava
com sobriedade, em pequena quantidade, as munições
22 importadas (X PERT e Match III) para os Campeonatos Brasileiros
e, mesmo assim, apenas para as provas de tiro deitado e com muito
boa vontade para o tiro de joelhos.
Não precisava ser um grande “expert” no esporte
para adivinhar a dificuldade e a longa demora do carabineiro em
evoluir no tiro de arma longa. A possibilidade de importação
de munição, arma e equipamentos somente foi possível
na gestão do Presidente Coronel Sá Campello. Por
intermédio dessa medida, o Tiro Esportivo pode crescer
e as medalhas e títulos não demoraram a aparecer.
Os velhos e sofríveis casacos de lona deram lugar aos casacos
de couro bem mais eficientes e seguros.
2. O surgimento de novos carabineiros
Para aqueles que chegassem com vontade de atirar no Fluminense
naquela época, existiam armas antigas e pesadíssimas
à disposição como as velhas carabina Martinis,
Hammerli, Valmet e Shutz Larsen, com gatilho “cabelo”,
guardadas nos armários do clube. Algumas são mostradas
nas fotos abaixo. O carabineiro precisava ter uma boa compleição
física e força para sustentar uma carabina que pesava
quase 10 kg.
Mesmo
assim, novos carabineiros surgiram nessa época no Rio de
Janeiro, como Waldir Ferreira, Eduardo Ferreira, Marco Antônio,
Luiz Fernando Alonso, Carlos Eduardo Lima, Dílson Reis
e Angelamaria. Em São Paulo o Tiro de arma longa progrediu
mais rápido e surgiu uma safra de grandes carabineiros
como Milton Sobocinski, Waldemar Capucci, Aluízio Motta,
Roberto Vitto, Roberto Giorgi e Durval Guimarães, que acabou
se tornando no melhor carabineiro que o Brasil já teve,
conquistando inúmeros campeonatos brasileiros e uma medalha
de prata na prova individual de carabina deitado nos Jogos Pan-Americanos
do México em 1975.
A
quarta grande dificuldade era a falta de um calendário
mais amplo contendo mais competições para os carabineiros
que tinham que se contentar com praticamente quatro provas por
ano: campeonato brasileiro, campeonato estadual, campeonato do
clube e uma rara prova internacional. Esse era o quadro do Tiro
de armas longas da época em que comecei a competir
3.
Os principais atiradores de armas longas e suas antigas carabinas
1930: Campeões tricolores de armas curtas e longas no antigo
estande do Fluminense
Em cima: Coronel Antônio Ferraz, Afrânio Costa, Manoel
da Costa Braga, Harvey Villela.
Em baixo: Antônio Guimarães, Armando Braga e Ernani
Neves com suas antigas carabinas suíças Martini
e Hammerli.
OBS: Algumas dessas armas antigas foram emprestadas aos atiradores
iniciantes nas décadas de 50 e 60 no Fluminense.
1936 – Harvey Villela – Afrânio Costa e José
Salvador com suas carabinas
Salvador foi o construtor do atual Estande do Fluminense em 1934.
Carabina 22 Shultz
Carabina Hammerly com furo na coronha - Cal 22 – Suíça
Carabina cal 22 Hammerly sem furo na coronha - Suíça