Eduardo Ferreira
(ferreiraedu@terra.com.br)


TIRO ESPORTIVO

MODALIDADE VITORIOSA E REFERÊNCIA NA HISTÓRIA ESPORTIVA NACIONAL.

A descoberta da pólvora no século XIV pode ser considerada como o marco inicial da história das armas de fogo e a do Tiro Esportivo. Com o avanço da tecnologia as armas de fogo foram ficando cada vez mais seguras e precisas, culminando com a invenção do raiamento em meados do século XIX. Logo foram criadas as provas de tiro que se espalharam por diversos países da Europa.

Esse movimento ensejou o refinamento das armas e as fábricas aproveitaram o surto da Revolução Industrial para aprimorar ainda mais as armas de competição. Os primeiros clubes suíços se reuniram e fundaram as sociedades de tiro. A “Sociedade de Tiro e a Federação Francesa” fundada em 1884 serviu de base para a criação da “União Internacional das Federações e Associações Nacionais de Tiro” em 1907, com oito países membros e tendo como Presidente Pierre François Daniel Merillon, antigo presidente da entidade francesa.

Anteriormente, o próprio Barão Du Coubertin, restaurador dos Jogos Olímpicos e um antigo campeão francês de tiro, implantou a modalidade do Tiro nos I Jogos Olímpicos realizados em Atenas em 1896. Com o sucesso do evento foi realizado no ano seguinte em Lyon o I Campeonato Mundial de Tiro.

Após a interrupção dos Jogos Olímpicos devido a I Guerra Mundial, o Tiro Esportivo sofreu uma paralisação e a União foi dissolvida somente sendo restabelecida em 14 de abril de 1921 com o nome de “União Internacional de Tiro”, com 14 federações filiadas. Com a deflagração da II Guerra Mundial, o Tiro novamente sofreu uma interrupção somente retornando as suas atividades normais a partir de 1947 com a realização do Campeonato Mundial realizado na Suécia.

Merece destaque a iniciativa do atirador sueco Karl Larsson que por conta própria, durante a II Guerra, realizou uma arriscada viagem, via terrestre, de Estocolmo até Paris para recolher a documentação da UIT e levá-la de forma segura para a Suécia, país neutro, a fim de preservá-la da guerra. A partir de 1947 ficou decidido que o idioma oficial seria o inglês e com uma nova denominação “International Shooting Union (ISU)”

No final da década de 80 grandes e importantes transformações ocorreram no Tiro Esportivo, servindo para alavancar a modalidade: mudança no formato dos alvos, substituição das antigas silhuetas humanas por alvos circulares; redução dos tempos de provas; retirada das provas de fuzil das olimpíadas; incentivo ao tiro de ar comprimido; mudanças na regras e criação das séries finais, inovação mais importante implementadas pela ISU, possibilitando o acompanhamento do público e o televisionamento das séries das finais.

O Tiro Esportivo cresceu muito e com o término da “Guerra Fria” e dos boicotes ocorridos nos Jogos Olímpicos de 1980 e 1984 houve um aumento considerável de federações filiadas, sendo atualmente considerado o terceiro esporte mais importante devido as 15 medalhas ofertadas nos Jogos Olímpicos e pelo grande número de praticantes em todos os continentes. Em1998, durante o Campeonato Mundial de Barcelona, a Assembléia Geral da UIT aprovou a mudança do nome o para Federação Internacional do Tiro Esportivo (ISSF), sendo reeleito o atual Presidente Olegário Vazquez Raña.

O ESPORTE NO BRASIL

Em 1899 foi criado o Tiro Nacional no Brasil com a finalidade de incrementar a prática do Tiro ao Alvo entre militares e civis e coordenar as atividades das Sociedades de Tiro. A Argentina já havia implantado este mesmo modelo anos antes com pleno êxito e era uma cópia do modelo de serviço militar do Exército Suíço, aliando as obrigações do serviço militar com as atividades esportivas. Pelo Decreto No. 1503, de 05 de setembro de 1906, o Estado-Maior do Exército Brasileiro criou a Confederação do Tiro Brasileiro (CTB) com a sede na cidade de Rio Grande. As provas da Confederação eram realizadas no estande da Vila Militar.

Além da vertente oriunda do Tiro Militar, a colonização alemã e italiana ocorrida no Sul do País, em meados do século XIX, concorreu para o aparecimento de inúmeros clubes de tiro e caça e pesca, promovendo competições típicas em suas linhas de tiro como a do “tiro ao rei”, ainda hoje presentes nas cidades de colonização germânica e inseridas na programação da “Oktobestfest”, no Estado de Santa Catarina.

Em 15 de maio de 1914 foi criado o primeiro clube civil de tiro no Rio de janeiro denominado “Revólver Clube”, de propriedade do atirador Alberto David Pereira Braga. No dia 3 de agosto de 1919 foi inaugurado o estande de tiro do Fluminense, iniciativa do diretor de tiro Dr. Afrânio Antônio da Costa, que contou com o apoio do Presidente do Clube – Dr. Arnaldo Guinle. Neste estande, a equipe brasileira que iria brilhar nos Jogos Olímpicos na Antuérpia, no ano seguinte, realizou seus preparativos e treinamentos.

Nos Jogos Olímpicos da Antuérpia, mais uma vez a presença efetiva e histórica do Dr. Afrânio Costa foi marcante, pois além de conquistar a primeira medalha do Brasil nos Jogos Olímpicos, prata na prova de pistola livre, obteve a medalha de bronze por equipe na mesma modalidade. Além disso, graças à sua iniciativa conseguiu emprestado da equipe norte-americana o revólver que deu ao Brasil a sua primeira medalha de ouro por intermédio do grande atirador Tenente Guilherme Paraense.

A vida do Dr. Afrânio foi toda ela dedicada ao Tiro: ajudou a fundar a Federação Brasileira de Tiro em 2 de julho de 1923, recriou a FBT em 10 de julho de 1935 e foi o fundador e o primeiro presidente da Confederação Brasileira de Tiro ao Alvo (CBTA) em 11 de novembro de 1947 no Rio de Janeiro com a participação de quatro federações filiadas: RJ, RS. MG e SP.

A CBTA viveu nestes últimos anos momentos de lutas e incompreensão, particularmente contra a descriminação que este esporte olímpico ainda sofre no Brasil por leigos e dirigentes desinformados, sendo muitas vezes tratado como um esporte violento por lidar com armas de fogo. No entanto a tradição e as glórias advindas das inúmeras e importantes medalhas conquistadas em campeonatos e copas mundiais, jogos pan-americanos e sul-americanos, fazem do Tiro Esportivo uma modalidade vitoriosa e referência na história esportiva nacional.

Convém destacar os seguintes atiradores que se destacaram no cenário internacional: Durval Guimarães foi um dos maiores medalhistas nos Jogos Pan-Americanos, com oito medalhas, sendo três de prata, cinco participações em Jogos Olímpicos; Marcos Olsen com 4 medalhas, sendo duas de prata no Pan; Athos Pisoni com três medalhas sendo uma de ouro, com recorde dos Jogos Pan-Americanos; Marcos Olsen com quatro medalhas e duas de prata; Jodson Edington com três com uma de prata e Bertino de Souza com duas (ouro e prata) todos vitoriosos no Pan-Americano

Em 04 de fevereiro de 1994 a Confederação sofreu novas denominações: Confederação Brasileira de Tiro (CBT) e em 1 de dezembro de 1998, para se ajustar ao esporte internacionalmente (ISSF), com a denominação “Confederação Brasileira de Tiro Esportivo” (CBTE).

Para os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, o COB construiu um belíssimo e moderno estande de tiro, que recebeu o nome em homenagem ao grande campeão de Antuérpia – “Tenente Guilherme Paraense” e que será o palco das próximas disputas do Jogos Olímpicos do Rio em 2016.

 

 


por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação do DF, ex presidente das federações do RJ e CE, e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma Longa" e "História do Tiro"
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