1923
- Fundação da Federação Brasileira
de Tiro
1.Reflexos
da conquista das primeiras medalhas olímpicas
Uma notícia publicada em um matutino do Rio de Janeiro
em 1920 trouxe uma nova realidade para o Tiro Esportivo e para
as modalidades desportivas que também se beneficiaram com
o fato: “A notícia das primeiras medalhas olímpicas
correu todo o País dando conta do feito de um punhado de
dedicados atletas, que mesmo sem contar com o apoio necessário,
demonstraram a capacidade de adaptação e de criatividade
do homem brasileiro, superando todos os problemas e obtendo uma
vitória memorável”.
Equipes
como a França, considerada uma das melhores do mundo, não
obteve o sucesso esperado nesses jogos, a par de toda a sua meticulosa
organização. O chefe da equipe francesa, em seu
relatório transcrito na revista da UIT “Le Tir National”,
faz uma análise completa do treinamento e do apoio do governo
francês:
“cerca de 8.000 francos foram destinados à compra
de 20 fuzis suíços e de 20 modernas pistolas, além
de conceder uma bolsa de 120 francos a cada atirador, pelo período
de três meses em que ficariam treinando à disposição
do governo”.
O
mesmo relatório também fazia severas críticas
à organização belga, apontando como causa
do fracasso da equipe francesa: “as precárias instalações
do estande de tiro, montado ao ar livre, sem oferecer as mínimas
condições de conforto aos atiradores”.
No
Brasil, as principais conseqüências da vitória
de Paraense, Afrânio e de toda equipe brasileira foram:
1) Regulamentação das provas de tiro, segundo as
normas e regulamentos da União Internacional de Tiro (UIT);
2) Inclusão da competição de Tiro no programa
dos Jogos Latinos-Americanos, nas festividades que comemoraram
o Centenário da Independência do Brasil, em 1922,
no Rio de Janeiro;
3). Desenvolvimento do Tiro Esportivo no Rio de Janeiro e nos
Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais, com
o surgimento de vários clubes.
4) Criação da Federação Brasileira
de Tiro (FBT), em 1923, sob os auspícios da Liga de Defesa
Nacional e do Comitê Olímpico Brasileiro. O Tiro
Nacional desligava-se da direção da Diretoria Geral
de Tiro e da CBD, alcançando a sua maioridade desportiva.
2.
Declínio e fechamento da DGTG
A Direção Geral de Tiro do Guerra, sob a direção
do Coronel Olavo Manoel Corrêa”, realizou antes do
seu fechamento importantes eventos desportivos:
a. Concurso de Tiro - Tiro de Guerra 6 - no estande da Polícia
Militar (Rua Frei Caneca) em 03 de abril de 1921 com as provas:
1) “Prova Dr. Paulo de Frontin” – revólver
– 50 m – 15 tiros, vencida por Alberto Pereira Braga
com 94 pontos, superando o Dr. Afrânio Costa por um ponto.
2) “Prova Cel Olavo Manoel Correia” - fuzil 300 m
- alvo de 12 zonas - sendo 5 tiros deitado
b.
Grande Campeonato de Tiro ao Alvo – 27 Nov 1921 –
Vila Militar. Foi um dos maiores campeonatos organizados pela
DGTG e que contou com 530 concorrentes, sendo 306 atiradores filiados
às Sociedades de Tiro. Onze provas foram disputadas, participando
atiradores de quatro estados e sagrando-se vencedor o TG –
318 de Porto Alegre.
Resultados das principais provas:
a. Revólver ou Pistola de Guerra (Parabelum) – 50
m – 10 tiros
1º) 2º Ten José Alves Magalhães –
61 pontos
2º) 1º Ten Eurico Mariano de Oliveira – 61 pontos
3º) 2º Ten Heitor José Vieira – 59 pontos
4º) 1º Tem Ayrton Plaisant – 58 pontos
5º) Cap de corveta Geraldo Martins – 15 pontos
b.
Revólver ou Pistola de Guerra 50 metros – 15 tiros
1º) Dr Afrânio Costa – 115 pontos
2º) Ten Antônio Ferraz da Silveira – 109 pontos
3º) Cap Aristides Paes de Souza Brasil – 101 pontos
4º) Atirador Alberto Cruz Santos – 101 pontos
5º) 1º Ten Demerval Peixoto – 100 pontos
A
DGTG ainda realizou em 10 de junho de 1922, o “Concurso
Defesa Nacional”, na Vila Militar, onde foi disputada pela
primeira vez uma prova de carabina para damas, 25 metros –
10 tiros, que teve o seguinte resultado:
1º) Srta. Jandira Moreno – 93 pontos
2º) Srta. Rosa Vigorano – 82 pontos
3º) Mme. Cap Vigarano – 80 pontos
A
outra prova foi revólver 50 metros - 24 tiros - em 180
segundos cada tiro. Este tipo de prova em muito se assemelha com
as “provas finais”, realizadas hoje em dia, e teve
como resultados:
1º) Dr. Afrânio Costa – 123 pontos
2º) 1º Ten Demerval Peixoto – 119 pontos
3º) Cap Aristides Paes Brasil – 117 pontos
Com
a situação política se agravando no País,
em decorrência do desencadeamento do “Movimento Tenentista”,
com o episódio dos 18 do Forte no Rio de Janeiro, a DGTG
acabou sendo desativada, chegando ao fim depois de desempenhar
um ciclo importante com a implantação do Tiro Esportivo
no Brasil. Seria substituída por uma instituição
desportiva civil encarregada de traçar os novos rumos do
esporte.
3.
Jogos Latino-Americanos
Durante a comemoração do Centenário da Independência
do Brasil, em 1922, ocorreu no Rio de Janeiro uma Exposição
Internacional, que envolveu toda a região central da cidade
e mobilizou boa parte da população. As multidões
compareciam aos eventos, às festas e aos desfiles e aos
pavilhões das artes e ofícios de diversos países.
Juntamente
com a Exposição, foram organizados os Jogos Regionais
da América do Sul, também denominados de “Jogos
da América do Sul” e “ Jogos Latino-Americanos”.
A realização destes Jogos teve a ver diretamente
com o propósito do barão de Coubertin de expandir
o Movimento Olímpico para além da Europa e dos Estados
Unidos, organizando sob a sua chancela “jogos regionais”
nos continentes.
Pretendia-se,
desde então, que estes jogos se realizassem de quatro em
quatro anos, intercalados com os Jogos Olímpicos. Para
verificar a viabilidade deste evento, foi enviado pelo Comitê
Olímpico Internacional (COI) o conde de Baillet-Latour,
que se tornara presidente do COI, depois da saída de Coubertin.
Ele esteve presente na Abertura dos Jogos, que contou com a presença
do Presidente da República, Arthur Bernardes, e ocorreu
em 6 de setembro de 1922, no Estádio do Fluminense, remodelado
para acolher as disputas atléticas e um público
de 20.000 pessoas.
Os
Jogos oficiais estenderam-se até 16 de setembro, com disputas
de remo, tiro, atletismo, hipismo, boxe, tênis, esgrima,
natação, saltos ornamentais e pólo aquático.
Estiveram presentes representações desportivas da
Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai.
O
Tiro Esportivo foi inserido neste evento internacional, graças
aos magníficos resultados alcançados pela equipe
nacional, nos Jogos Olímpicos de Antuérpia. O Dr.
Arnaldo Guinle, Presidente do Fluminense e Dr. Afrânio Costa
foram os responsáveis pelo movimento da inclusão
das provas de tiro.
O
Ten Guilherme Paraense, justificando plenamente o seu favoritismo,
venceu a prova de revólver, seguido do Ten Antônio
Ferraz da Silveira e do campeão argentino Cunnings. A equipe
brasileira sagrou-se campeã com Dr. Afrânio Costa
completando a equipe. Na prova fuzil de guerra, a equipe argentina
foi a vencedora.
4.
Fundação da Federação Brasileira de
Tiro (FBT)
Após a realização dos Jogos Latino-Americanos,
os dirigentes do tiro, liderados por Afrânio Costa, sentindo-se
suficientemente organizados e fortalecidos pelo desempenho da
equipe brasileira na Antuérpia e nos Jogos realizados em
1922, trataram de projetar o Tiro Esportivo, tornando-o independente
das instituições que conduziram os seus passos desde
1906.
Com
a experiência adquirida à frente da Seção
de Tiro ao Alvo do Fluminense e contando com o apoio imprescindível
do Dr Arnaldo Guinle, membro do Comitê Olímpico Brasileiro,
Afrânio procurou inspirar-se na União Internacional
de Tiro (UIT) para modelar a nova entidade.
Atiradores
como Benjamim Oliveira Filho, Ivo Arruda, Heitor Beltão,
Gabriel Bernardes e Afrânio se revezaram na confecção
dos Estatutos da nova entidade. A tarefa foi trabalhosa, porém
muito bem conduzida, não faltando a participação
de outros atiradores, pois todos queriam participar deste novo
projeto que engrandeceria o esporte do Tiro.
No
Diário Oficial de 1923, foi publicada a criação
da Federação Brasileira de Tiro, que teve como principais
artigos do seu estatuto:
Art. 1 – “A Federação Brasileira de
Tiro, fundada a 2 de julho de 1923 no Rio de Janeiro, onde tem
a sua sede, sob os auspícios da Liga de Defesa Nacional
e da Diretoria Geral do Tiro de Guerra, é uma sociedade
civil, de caráter meramente esportivo, destinada a intensificar
e robustecer os laços de solidariedade entre atiradores
brazileiros, unindo-os sempre pelo amor à Pátria.
Outrossim, terá como escopo auxiliar a organização
e a conservação do Tiro entre as que constituem
ou vão constituir as reservas do Exército nacional:
não só despertando o interesse dos cidadãos
pelo manejo das armas de fogo, habilitando-os pelo esporte à
práctica de armas, dessa natureza, visando principalmente
os que ainda não atingiram à edade militar, como
também, attrahindo, desenvolvendo e aperfeiçoando
os que já souberam atirar”.
Art.
2 – “Para tal fim a Federação deverá:
a) estimular, por meio de campeonatos e competições
periódicas, o desenvolvimento do esporte do tiro e das
sociedades filiadas à federação;
b) interceder junto às autoridades competentes para que
seja permitido aos Tiros de Guerra, que se filiarem à federação
a organização de provas e concursos esportivos,
com armas regulamentares ou não, sem prejuízo da
disciplina militar a que estiverem sujeitos e dentro destes Estatutos;
c) prestigiar as sociedades federadas, amparando-as sempre que
a Comissão Diretora a julgar necessário;
d) incentivar a construção de stands ou campos de
tiro, onde se possa practicar o tiro esportivo, procurando crear
em cada Capital de Estado, pelo menos um stand modelo;
e) procurar obter reduções nos transportes, hotéis
e tudo mais que facilite o comparecimento freqüente aos campos
ou stands de tiro;
f) estabelecer uniformidade nas provas e concursos esportivos
promovidos pelas sociedades federadas, organizando para tal fim
regulamentos especiais, que deverão aproximar-se o mais
possível da normas internacionais em uso;
g) organizar grandes campeonatos Nacionais e Internacionais, selecionando,
adestrando e cuidando dos elementos que deverão formar
as representações nacionais no estrangeiro, facilitando
tudo quanto puder concorrer para o triumpho e renome do Brazil”.
A primeira diretoria foi assim constituída:
- Presidente: Dr. Miguel Calmon du Pin e Almeida
- 1º Vice-presidente: Dr. Henrique Coelho Neto
- 2º Vice-presidente: Dr Plínio Marques
- 3º Vice-presidente: Cel João Heliodoro de Miranda
- 1º Secretário: Dr. Afânio Antônio da
Costa
- 2º Secretário: Dr. Gabriel Loureiro Bernardes
- 3º Secretário: Dr. Heitor da Nóbrega Beltrão
- 1º Tesoureiro: Dr. Juvenal Murtinho Nobre
- 2º Tesoureiro: João Bosisio
- 3º Tesoureiro: Afonso Vizeu
- Conselho Técnico: Dr. Benjamim de Oliveira Filho
1º Ten Euclydes Zenóbio da Costa
1º Ten Antônio Ferraz da Silveira
Oscar Thiers de Faria
Paulo Lorena
por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE
e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação
do DF, ex presidente das federações do RJ e CE,
e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma
Longa" e "História do Tiro"
ferreiraedu@terra.com.br