Eduardo Ferreira
(ferreiraedu@terra.com.br)

1941 a 1947 – Fundação da CBTA

1. O Tiro Esportivo sob a édige da CBCT
Com a deflagração da II Guerra Mundial, o Tiro Esportivo sofreu as conseqüências da falta de isenção do Governo Federal e principalmente da insensibilidade dos dirigentes dos órgãos desportivos do País. O esporte viveu dias amargos e difíceis, devido à medida proibitiva imposta pelo Governo Federal de fechar os clubes de tiro nas regiões onde predominavam as colonizações alemã e italiana, bem como a proibição da prática do tiro e o recolhimento das armas de guerra no sul do País (fuzis e pistolas parabellum).

Paralelamente ao fato, foi promulgada a Lei No. 3199, de 14 de abril de 1941, determinando que todos os desportos amadores devessem ser dirigidos obrigatoriamente por uma “confederação” e que a mesma deveria possuir, no mínimo, três federações a ela filiadas.

Assim, com base na Lei do Esporte do Brasil foi criada a Confederação Brasileira de Caça e Tiro (CBCT), em 8 de julho de 1942, congregando atiradores e caçadores sob uma mesma entidade desportiva. Mais uma vez a Federação Brasileira de Tiro sucumbiu e ficou subordinada a uma entidade completamente desvinculada e descompromissada com os ideais do tiro olímpico.

A CBCT teve como primeiro presidente o desconhecido Tenente Coronel Américo Braga, Comandante da EsIE, sediada na Vila Militar. A nova confederação foi organizada com três departamentos distintos:
• tiro ao prato,
• tiro ao pombo
• tiro à bala.

Muito pouco de produtivo foi feito na sua gestão em prol do tiro à bala. O Tiro Esportivo praticamente “morreu”. Os abnegados atiradores não tinham ao menos um calendário de provas e nem eram convocados para as reuniões da Confederação. O quadro era bem desolador: estandes fechados ou vazios, antigos dirigentes desprestigiados e afastados das decisões do esporte. De que adiantou o Tiro Esportivo ter obtido as três primeiras medalhas olímpicas em 1920 se os antigos dirigentes do Tiro Esportivo não tinham voz ativa dentro da nova entidade?

A inexistência de competições nacionais do Tiro Esportivo e os seguidos atritos e discussões ocorridos entre o pessoal do “chumbo” e o da “bala”, comprovaram a omissão e a incompetência dos dirigentes da CBCT, especialmente do Presidente Américo Braga, que não soube conciliar os grupos e de estruturar o Tiro nacional.

Em compensação o tiro ao pombo e o tiro ao prato foram bastante prestigiados e beneficiados pelos dirigentes da CBCT, com calendário carregado de provas, premiações e participações de seus atiradores nas decisões das assembléias da Confederação. Para se ter uma idéia do quadro existente, em 1944 houve quatro torneios regionais e um campeonato nacional de tiro ao prato, divididos em três turnos, promovidos pela Confederação de Caça.

Nesse período o Tiro ao Alvo só sobreviveu graças à atuação e à persistência de Antônio Martins Guimarães, Diretor de Tiro do Fluminense Futebol Clube, organizando provas internas e convidando atiradores de outros clubes para participarem das competições.

2. Fundação das Federações de Tiro ao Alvo
Contrariados com aquela situação indesejável e constrangedora de ver o tiro à bala desprestigiado e reduzido a um simples departamento da nova confederação, vários dirigentes e atiradores antigos se articularam e iniciaram um movimento em prol do restabelecimento do prestígio e dos objetivos do Tiro Esportivo.

Esse movimento foi liderado pelo experiente Dr. Antônio Martins Guimarães, amigo e fiel seguidor das idéias do Ministro Afrânio Costa, que havia se afastado do esporte logo após a decisão do Governo em criar a CBCT.

Além de Guimarães, o mineiro Álvaro José dos Santos Júnior, o paulista Tenente Coronel Antônio Ferraz da Silveira e do paranaense Eugênio Caetano do Amaral se organizaram com o intuito de fundar uma entidade ligada ao Tiro Esportivo.

O movimento que teve origem no Rio de Janeiro, logo se alastrou para outros estados e com o apoio do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), em virtude de o Tiro ser um esporte olímpico e contando ainda com a ajuda eficiente do General Breno Pernetta, comandante da 5ª. Região Militar, Eugênio Caetano do Amaral fundou a 10 de maio de 1946 a Federação Paranaense de Tiro ao Alvo. Logo em seguida, foi fundada a Federação Metropolitana de Tiro ao Alvo (FMTA), em 7 de junho de 1946, com a filiação dos clubes: Fluminense, Flamengo, São Cristóvão e Bangu, tendo como presidente o mineiro Dr. Álvaro Santos, que mais tarde se tornaria o grande campeão brasileiro de pistola livre.

Três dias depois, em 10 de junho de 1946, foi fundada a Federação Paulista de Tiro ao Alvo (FPTA), presidida pelo Ten Cel Antônio Ferraz da Silveira e contando com os clubes Tietê, Santos, Floresta e Duque de Caxias (Ribeirão Preto). Posteriormente a federação de Minas Gerais veio se juntar às três coirmãs. Dessa maneira, estavam os alicerces da futura confederação devidamente implantados.

3. Fundação da Confederação Brasileira de Tiro ao Alvo (1947)
Tendo as quatro federações como âncoras, o passo seguinte foi a fundação da CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE TIRO AO ALVO (CBTA), ocorrida em 28 de novembro de 1947, com sede no Rio de Janeiro, sendo novamente eleito para presidente, por unanimidade, o Ministro Afrânio Antônio da Costa.

No dia da posse, ocorrida no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), estavam presentes os velhos companheiros da Antuérpia, Tenente Coronel Guilherme Paraense, já na reserva, General Demerval Peixoto e o Dr. Dilermando Cruz, que ouviram emocionados o discurso do antigo “capitão da equipe brasileira”, que os havia liderado naquela memorável jornada épica.

É bem provável que naquele momento os seus pensamentos estivessem voltados para o ano de 1920 e para a velha cidade belga da Antuérpia. A improvisada e rústica linha de tiro do Exército; o extenso e o incômodo areal onde os alvos eram fincados; nenhuma proteção para os atiradores competirem; assistência curiosa e barulhenta, postada atrás dos atiradores mais famosos, acompanhando os tiros com seus binóculos; a alegria de toda a equipe após o último disparo de Paraense; a entrega de medalhas aos nossos atiradores e a chegada triunfal ao Rio de Janeiro, com direito à recepção pelo Presidente da República, tudo isso parecia um sonho distante...

Além da presença desses “heróis”, um grande número de atiradores famosos, do presente e do passado, como Tenente Coronel Antônio Ferraz da Silveira, General Zenóbio da Costa, foram levar o seu apoio à entidade e ao mais notável dos nossos atiradores, que mais uma vez era convocado para assumir a presidência da Confederação.

Do discurso de Afrânio, verdadeiro retrospecto da história do Tiro Brasileiro, ressalta-se o seguinte trecho, que representava o pensamento e os ideais da antiga Confederação Geral de Tiro, criada em 1906: “Em cada uma cidade um stand e um núcleo de atiradores de elite, que permita a todos os brasileiros uma preparação real e eficiente para a defesa do solo e das instituições, que insensivelmente promove o adestramento de todos e de cada um por via de diversão; de tal sorte que essa difícil e importante feição do soldado não preocupe demasiadamente às autoridades militares que terão suas cogitações aliviadas por esse auxílio disseminado por todo o País”.

Ao se desligar da Confederação Brasileira de Caça e Tiro, o Tiro Esportivo Brasileiro voltava a ser finalmente reconhecido nacionalmente pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e retomava o seu caminho de triunfo e de glórias. As ligações com a UIT foram prontamente reativadas e a delegação brasileira começou a se preparar para os Jogos Olímpicos de Londres, porém, veremos esse acontecimento no próximo artigo, inclusive com os esforços da CBCT de impedir o embarque da delegação para Londres.


por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação do DF, ex presidente das federações do RJ e CE, e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma Longa" e "História do Tiro"
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