Stand de tiro do Fluminense
completou 90 anos nesta segunda-feira
Dr.
Arnaldo Guinle
O
Fluminense Football Club já nasceu com vocação
olímpica. O Dr. Arnaldo Guinle, quando assumiu a presidência
em 1916, projetou e executou uma remodelação nas
instalações físicas que vieram transformar
o clube em um grande e modelar centro sócio-desportivo.
Na sua gestão, foi delineada e construída "a
mais bela sede social de clube de futebol do país".
Outras
obras vieram consolidar e engrandecer o projeto como a construção
do primeiro estádio de futebol em 1919, remodelado em 1922
para a realização dos Jogos Latino-Americanos, o
ginásio, o estádio de tênis, com seis quadras
e a elegante piscina semi-olímpica.
No
mesmo estilo arquitetônico, foi construído junto
ao ginásio, o aprazível estande de tiro. Era dotado
com seis postos de tiro para 25 e 50 metros, uma trincheira a
50 metros, sala de apuração e sala de estar para
os atiradores. Para a construção do estande, o clube
recebeu a orientação técnica do Diretor do
Estande Dr. Afrânio Antônio da Costa, jovem advogado
nascido em 1892 em Macaé, apaixonado pelo Tiro e amigo
pessoal do Dr Arnaldo Guinle. Pelas fotos da época, o primeiro
estande de tiro do Fluminense seguiu uma linha de projeto semelhante
ao estande do "Revólver Club", construído
na Lagoa Rodrigo de Freitas em 1914.
A amizade do Dr Afrânio com o Dr Arnaldo Guinle favoreceu
o convencimento da necessidade de se construir um estande de tiro
no clube, um esporte ainda pouco conhecido na época e que
estava intimamente vinculado ao interesse militar. O estande,
na verdade, traria outros benefícios para o esporte e para
o Tiro quando a criação da AMEA (Associação
Metropolitana de Esportes Amadores), após o fechamento
da Federação Brasileira de Tiro em 1927, ficando
como único estande para a prática esportiva do Distrito
Federal.
Inauguração
do Primeiro "stand" de tiro
No
próximo dia 03 de agosto o "stand" de tiro do
Fluminense, como era chamado na época, estará completando
90 anos de profícua existência em prol do Tiro Esportivo
Brasileiro. Quando da inauguração, foram programadas
duas provas de revólver a 25 e 50 metros e uma prova de
fuzil a 50 metros e uma prova de fuzil a 50 metros, reunindo os
melhores atiradores do Rio de Janeiro. Estavam presentes altas
autoridades esportivas civis e militares da antiga Diretoria Geral
do Tiro de Guerra, autoridades federais, o Presidente, Dr. Arnaldo
Guinle, e toda a diretoria do clube.
Foi
de suma importância o papel desempenhado pelo Dr Afrânio
à frente do estande do Fluminense, além da formação
de novos valores, sediou o treinamento da histórica equipe
brasileira que iria brilhar na Antuérpia em 1922, conquistando
as primeiras medalhas olímpicas para o Brasil. A medalha
de prata viria inicialmente para o próprio Afrânio,
um grande atirador de arma curta, que além de chefiar a
equipe brasileira se destacou obtendo a medalha na prova de pistola
livre. A outra medalha coube a um atleta do Fluminense, o tenente
Guilherme Paraense, ouro na prova de revólver. A equipe
constituída por Paraense, Fernando Soledade, tenente Mário
Maurity, e os gaúchos Dario Barbosa e Sebastião
Wolf, ficou com a de bronze.
O
primeiro "stand" do Fluminense representou um marco
histórico na vida do Tiro Nacional, pois foi o grande responsável
pela formação de vários atiradores tricolores
e proporcionou bases sólidas para a inauguração
da Federação Brasileira de Tiro em 1923. Nos Jogos
Atlético Sul-Americanos, na primeira prova internacional
realizada no Brasil e no Fluminense, em 1922, mais uma vez Afrânio
e Paraense brilharam, vencendo os fortes concorrentes sul-americanos.
Construção
do novo stand de tiro
Sob
a presidência de Oscar Costa, o pequeno e velho "stand"
de tantas glórias registradas, foi substituído em
1934 pelo atual estande do Fluminense, construído nos fundos
do antigo estande, na encosta que servia anteriormente de pára-balas.
O terreno foi adquirido ao Governo do Distrito Federal, no Palácio
Guanabara, com recursos próprios de atiradores do clube,
que se uniram e se cotizaram para a consecução deste
objetivo.
O
projeto dessa obra teve como base o modelo suíço
de estandes, com dois andares e permitindo o tiro simultâneo
a 25 e 50 metros. O projeto agradou a todos, pois permitia um
maior número de participantes em treinamentos ou em provas.
Foi considerado moderno e espaçoso para a sua época,
foi idealizado e construído pelo engenheiro civil Dr. José
Salvador da Trindade, carabineiro natural da cidade de Friburgo
e quinto colocado nos Jogos Olímpicos de Berlim, empatado
com o 2º, 3º e 4º lugar com 296 pontos e apenas
perdendo a medalha olímpica pelo critério de desempate
utilizado na época pela UIT, por ter um nove mais afastado
do centro.
A
partir do funcionamento do segundo estande inúmeras provas
se sucederam e centenas de atletas foram formados em suas linhas
e que tão bem representaram o Brasil em provas nacionais
e internacionais. As galerias de retratos emoldurando as paredes
do estande prestam uma singela homenagem àqueles campeões
do passado que elevaram o Clube do Fluminense. A História
do Tiro Esportivo não poderá ser contada no futuro
sem falar e enaltecer o papel do Tiro do Fluminense, berço
da implantação, continuidade e estabilização
do esporte no país, que até hoje vem desempenhando
as suas funções esportivas como centro de excelência
do Tiro Nacional.
Os
atiradores do Fluminense devem sentir muito orgulho do seu estande
de tiro, não somente como um patrimônio da História
Olímpica do Brasil, mas pelo papel que desempenhou nesses
90 anos. Juntamente com "A Taça Olímpica",
conquistada em 1949, ambos se constituem nos valores maiores que
um clube esportivo posso desfrutar.
Atualmente
o estande passa por uma grande renovação nas suas
instalações físicas que irão modernizar
e impulsionar o esporte para um futuro promissor, por intermédio
do dinamismo da Angelamaria, primeira mulher a dirigir o Tiro
do Fluminense. Atiradora dedicada que começou sua vida
esportiva ainda jovem, competindo contra seniores, uma vez que
na época não havia atiradoras no clube e que conquistou
uma importante medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Havana.
Ocupante desse honroso cargo, que já foi ocupado por Afrânio
e de tantos ex-atiradores tricolores famosos, deixando um legado
de glórias e tradições para o clube. Hoje
ela tem a difícil missão de preservar os mesmos
ideais daqueles que construíram o primeiro "stand"
do Fluminense.
por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE
e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação
do DF, ex presidente das federações do RJ e CE,
e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma
Longa" e "História do Tiro"
ferreiraedu@terra.com.br