Eduardo Ferreira
(ferreiraedu@terra.com.br)


HÁ 100 ANOS ATRÁS...

O TIRO ERA JÁ UM ESPORTE CONSAGRADO

Para aqueles que não acreditam que o nosso esporte seja muito conhecido e reconhecido internacionalmente, observem os resultados coletados no ano 1912, quando no Brasil, por intermédio da Confederação do Tiro Brasileiro – CTB, foi organizado uma prova de fuzil de guerra 300 metros no antigo Estande de Tiro do Exército situado na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão. O vencedor da prova foi o Tenente Flávio Nascimento do Tiro de Guerra -7 (TG-7), pai do atirador e campeão carioca Flávio do Nascimento. O estande ainda foi utilizado até os anos de 1970, sendo desativado devido ao crescimento da cidade do Rio de Janeiro.

A par desse fato, pouco conhecido pelos nossos atiradores no Brasil, pois muitos acreditam que o Tiro no Brasil só tenha começado nos Jogos Olímpicos da Antuérpia, vamos descobrir na nossa pesquisa em livro histórico argentino, que o Brasil oito anos antes do notável feito das primeiras medalhas olímpicas já participava nacional internacionalmente de provas e obtinha as primeiras medalhas, como a medalha de bronze por equipe na Argentina.

Confirmando a veracidade desse fato, naquele mesmo ano de 1912 a CTB enviou uma delegação brasileira à Argentina para participar do I Concurso Internacional Pan-Americano no estande do Tiro Federal de Buenos Aires. Do Livro “Historia Del Tiro Federal Argentino de Buenos Aires”, escrito por Oscar Vázquez Lucio, extraímos a seguinte informação sobre aquele certame: “La confraternidad americana tiene distintas manifestaciones y el Concurso Panamericano de Tiro contribuye a refirmala: el gran certamen a desarrollarse entre 16 y el 30 de mayo de 1912 cuenta com la participación de Norte América, uma delegación de Perú, compuesta de ocho tiradores, delegaciones del Brasil y Uruguay, tiradores de las ciudades chilenas de Valparaíso, Santiago y Concepción, y de un grupo de tiradores de Bolívia”.

O chefe da delegação do Brasil foi Procacio A. de Ferraz e a nossa delegação foi representada pelos seguintes atiradores: Alberto David Pereira Braga, Fernando Soledade, Sebastião Wolf e Dario Barbosa, conquistando a medalha de bronze, atrás da Argentina e Chile e à frente dos norte-americanos que venceram a prova de fuzil. Alguns desses atiradores brasileiros iram brilhar mais adiante nos Jogos Olímpicos de Antuérpia em 1920.

Paralelamente a esses eventos ocorria o 16º Campeonato Mundial de Tiro, realizado em Bayonne-Biarritz, na França que teve os seguintes destaques:

1)     A prova de pistola livre foi vencida pelo belga Paul Van Asbroek, com a espetacular marca para a época de 540 pontos, seguido do francês Paul Maujean com 535 pontos e o suíço Caspar Widmer com 527 pontos sendo campeã a equipe da Bélgica com 2570 pontos.

2)     Na prova de fuzil livre o campeão foi o atirador suíço Conrad Staheli com 1078 pontos, seguido do belga Paul Van Asbroek com 1038 e do suíço Marcel Meyer de Stadelhofen com 1036 pontos, sendo a Suíça a equipe vencedora com 5172 pontos.

OBS: Era comum na época o atirador competir tanto na arma curta como também na armas longa. O mesmo hábito era visto também no Brasil.

3)     Na prova de fuzil militar (chamado de fuzil de guerra no Brasil) o espanhol Julio Castro venceu a prova com 506 pontos.

            Completando o noticiário desportivo daquele ano, ocorreu o V Jogos Olímpicos      de            Estocolmo. Os principais resultados olímpicos foram:

1)      Na prova de carabina deitado – 20 tiros o campeão foi o norte americano Frederick Hird com 194 pontos;

2)      Na prova de alvo móvel o vencedor foi o sueco Whilem Carslberg com 242 pontos;

3)      Na prova de pistola livre o campeão foi o norte-americano Alfred Lane com 499 pontos. Esse mesmo atirador perderia a medalha de ouro nos Jogos de Antuérpia de 1920 por dois pontos para Tenente Guilherme Paraense;

4)      No tiro rápido, novamente o norte-americano Alfred Lane obtém a medalha de ouro com 287 pontos;

5)      Na prova de fuzil livre o campeão foi o francês Paul Colas com 987 pontos;

6)      A prova de fossa olímpica foi vencida pelo norte-americano James Graham com 96 pratos; e

7)      Na prova de tiro ao cervo o vencedor foi o veterano atirador sueco Alfred Swahn com 41 impactos. 

 

1912 - Cartaz do I concurso Internacional
Pan-americano – Buenos Aires

 

 


por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação do DF, ex presidente das federações do RJ e CE, e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma Longa" e "História do Tiro"
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