CAMPEONATOS
PAN-AMERICANO DE TIRO MILITAR - PANAMÁ
I
PARTE (1960–1970)
FUZIL GARAND M-1
1. COMPETIÇÃO
O Exército
Norte-Americano do Comando Militar do Sul (USARSO),
com sede na Zona do Canal, na cidade do Panamá,
promoveu em fevereiro de 1960 o I Campeonato Pan-Americano
de Tiro Militar no estande aberto de tiro militar
“Emperator”. Ao todo, ocorreram quinze edições realizadas
desde 1960 até 1974 quando o campeonato foi extinto,
participando a maioria dos exércitos da América
do Sul, da América Central e dos Estados Unidos,
todos os países pertencentes ao Acordo Militar estabelecido
com os Estados Unidos.
Cerca
de 20 equipes, reunindo aproximadamente 200 atiradores
militares participaram anualmente do campeonato.
Ao longo desse período, a equipe do Exército Brasileiro
de Armas Longas teve um desempenho destacado, tornando-se
a partir dos anos 70 uma das melhores equipes, obtendo
os primeiros lugares nas provas e conquistando inúmeras
medalhas individuais e por equipe.
O Campeonato
Pan-Americano representava uma cópia fiel da instrução
de tiro militar, realizada anualmente pelas tropas
do Exército dos Estados Unidos, sendo bastante difundida
na formação e na instrução de todos militares do
Exército norte-americano. Os cem melhores militares
classificados nesse evento recebiam a cada ano um
distintivo denominado “presidente hundred’s”,
podendo usá-lo oficialmente em seu uniforme. Era
motivo de honra para os oficiais e praças que conquistavam
esse título e usavam com muito orgulho o distintivo
em seus uniformes.
Para
a realização da competição o Exército norte-americano
enviava anualmente dez (10) fuzis garand M-1 NM
(normal-match) para os países participantes,
com mais de um mês de antecedência, para que as
equipes pudessem treinar e se ajustar com as armas.
As delegações eram constituídas por oito atiradores,
um técnico (coach), um atirador reserva e um chefe
de delegação. O Campeonato tinha como norma que
cada delegação deveria levar pelo menos um atirador
“novo” que nunca havia participado do campeonato.
Havia premiação especial para este atirador novato.
As competições
eram realizadas normalmente nos mês de fevereiro
e duravam cerca de quinze dias. As delegações eram
transportadas em aviões da USAF, que faziam escalas
em cada país transportando as equipes até a cidade
do Panamá, onde eram alojadas no Fort Clayton.
2.
SELEÇÃO DA EQUIPE BRASILEIRA E TREINAMENTO NO BRASIL
A Comissão
Desportiva do Exército (CDE) normalmente convocava
cerca de 15 melhores atiradores de fuzil, com base
nos últimos resultados do Campeonato do Exército.
Até 1965, o armamento utilizado nas eliminatórias
era o fuzil Mauser 1908, cal 7 mm. A partir deste
ano as eliminatórias foram realizadas com o fuzil
FAL 7.62, recém chegado ao Brasil e que permitia
o tiro rápido.
Os dez
melhores classificados recebiam o fuzil Garand M1
enviado pelo exército norte-americano. Os alvos
eram também enviados e do mesmo tipo que seriam
usados nas provas do Panamá, com a numeração variando
de zero a zona do cinco V (5V). As eliminatórias
eram realizadas no estande da Vila Militar com os
atiradores atirando ao ar-livre, do lado de fora
do estande, tal como seria no Panamá. Como curiosidade
o estande das eliminatórias foi construído ao lado,
onde hoje se situa o estande do CNTE. O treinamento
e a seletiva eram feitos à semelhança das provas
do Panamá, ao ar livre e a uma temperatura ultrapassando
os 40º à sombra.
Havia
um problema para o treinamento da equipe, a munição
enviada era reduzida e a CDE teve que entrar em
contato para conseguir mais munição nos quartéis
da Vila Militar. A quantidade encontrada não foi
suficiente e até junto aos fuzileiros da Ilha de
Governador foram acionados para o empréstimo de
munição. Em 1967 o treinamento da equipe foi no
estande dos fuzileiros na Ilha do Governador.
3.
CHEGADA NO PANAMÁ
O Campeonato
Pan-americano no Panamá tinha uma duração de duas
semanas com uma semana de clínica, com treinamento
e outra de provas. As delegações militares eram
transportadas pelos aviões da Força Aérea Norte-americana,
que faziam escalas em seus países trazendo as equipes
até a cidade do Panamá. No aeroporto de Tocúmen,
no Panamá, oficiais norte-americanos recebiam e
saudavam as delegações que eram em seguida transportadas
para a Zona do Canal. Ao chegar ao Fort Clayton
as equipes eram distribuídas pelas companhias e
ficavam alojadas nos alojamentos vagos pela tropa
que estava lutando no Vietnam.
O transporte
para o estande era feito por ônibus escolares. Dentro
dos ônibus os atiradores se misturavam e de dentro
se ouvia uma confusão de línguas, risadas e sotaques
predominantemente caribenhos. Momentos de descontração,
alegria e de brincadeiras que serviam para travar
conhecimentos com os novos atiradores e de rever
e abraçar os atiradores do passado. Um clima de
camaradagem pouco visto nas competições civis em
que participei.
É interessante
observar que não havia distinção entre oficiais
e praças participantes, todos eram tratados igualmente
como atiradores, ficavam alojados nas companhias
e participavam das mesmas provas lado a lado, competindo
debaixo de um sol escaldante do Panamá. Era muito
gratificante observar uma extensa linha de atiradores,
com os oficiais disputando igualmente as provas
com as praças. O armamento utilizado era o “fuzil
Garant M-1 .30, Normal Match, com um cano especial
e com um carregador metálico “clip” de oito cartuchos,
que fazia um ruído metálico típico após o último
disparo com a ejeção do mesmo”. A munição era calibre.
30 match (Lake City).
4.
CERIMÔNIA DE ABERTURA
Na primeira
semana que antecedia as provas era realizada a Cerimônia
de Abertura, bem típica do exército norte-americano.
As delegações aguardavam sentadas numa arquibancada
de madeira, dispostas em ordem alfabética a chegada
do General Comandante Militar do USARSO para dar
início a cerimônia. Esta começou com a chegada do
general em uma viatura oficial.
O general
de quatro estrelas chegou e surpreendeu a todos
pela jovialidade e simplicidade. A seguir, de uma
aeronave militar saltaram vários pára-quedistas
das Forças Especiais norte-americanas em salto livre,
com seus uniformes pretos, trazendo a bandeira dos
Estados Unidos, sendo que o oficial mais antigo
trazia um fuzil garand atado ao lado do corpo. Após
a aterragem o oficial entregava o fuzil ao general
que disparou um tiro inaugural, seguido de uma forte
explosão localizada atrás do alvo e todos os alvos
levantaram marcando um tiro no centro do alvo. Uma
forma inédita para nós brasileiros de realizar a
abertura de um campeonato de tiro.
5.
POLÍGONO DE TIRO
O polígono
“Emperator” estava situado no campo de instrução
e era construído ao ar livre com 40 postos de tiro.
Os atiradores se colocavam sobre uma berna de grama,
cerca de 3 metros de largura, em distâncias variadas
de 200, 300 e 500 jardas. Havia uma torre elevada
na linha de tiro com ampla visibilidade para o diretor
da prova comandar as provas com total segurança.
Duas enormes bandeiras vermelhas se localizavam
nas extremidades da trincheira e serviam para o
atirador observar o “valor” e a direção do vento,
essenciais para o tiro à longa distância.
Várias
barracas eram armadas na linha de tiro recuada (500
jd) para os atiradores fugirem do sol inclemente
do Panamá e descansarem durante o almoço servido
em um “comedouro” ou em viaturas para a venda de
sanduíches e refrigerantes. Havia também uma barraca
do posto de saúde para o atendimento do pessoal
com problemas de desidratação. Ao serem chamados
os atiradores se deslocavam das barracas e se dirigiam
para a “linha de fogo”, acompanhados de um “coach”,
aguardando os comandos de tiro do diretor da prova.
6.
SEMANA DE TREINAMENTO
Nesta
semana de treinamento era ministrada uma clínica
de tiro sobre as provas, com técnicas das posições,
obtenção do “zero” da arma, em cada posição, avaliação
do valor do vento, regras e solicitação de “álibi”,
pedido de interrupção válida devido à quebra de
arma ou do alvo. A clínica era ministrada normalmente
por monitores, sargentos da unidade sediada no Fort
Benning denominada “marksmanship”
Esses
militares eram monitores do Exército Norte-americano,
estavam baseados no Fort Benning e possuíam larga
experiência de guerra, pois haviam lutado na Guerra
do Vietnam. Cada equipe recebia um sargento “marksmanship”
para acompanhar e orientar os atiradores durante
as provas realizadas. Cada “marksman” trabalhava
com a nossa equipe e era de grande valia na avaliação
do valor do vento (direção e intensidade), além
de auxiliar o nosso “coach” o Capitão JOSÉ TAROUCO
CORREA, que realizou um excelente trabalho nesta
função. Nos intervalos das provas, procurávamos
esses militares para ouvirmos suas histórias e as
suas experiências de guerra como “snipers” contra
os vietcongs.
7.
CARACTERÍSTICAS DAS PROVAS
A principal
característica das provas é que não havia tiros
preliminares de ensaio, tendo em vista o caráter
militar da competição onde todo militar deveria
saber o “zero” de sua arma, clicar para a correção
do vento e clicar em altura para as distâncias maiores.
As provas eram divididas em provas individuais e
por equipe Cada equipe era formada por seis (6)
atiradores e o valor total era a soma dos seis competidores.
a. As
provas individuais eram numeradas 1, 2, 3,
4 e 5, na seguinte ordem:
Prova
1) Em pé tiro lento, 20 tiros em 20 minutos, na
distância de 200 jardas;
Prova
2 Partindo da posição em pé e ao subir os alvos
a 200 jardas, cada atirador deve disparar duas séries
de 10 tiros em 50 segundos na posição sentado, disparando
inicialmente dois tiros, recarregando os oito tiros
restantes;
Prova
3) Partindo da posição em pé e ao subir os alvos
a 300 jardas, cada atirador deve disparar duas séries
de 10 tiros em 60 segundos na posição deitado, disparando
inicialmente dois tiros, recarregando os oito tiros
restantes;
Prova
4) Deitado em tiro lento, 20 tiros em 20 minutos,
na distância de 500 jardas
Prova
5) Somatório das provas 1,2,3,4
b. As
provas por equipe (atiravam todos 6 atiradores)
eram numeradas na seguinte ordem:
Prova
6) Somatório das provas rápidas com 10 tiros na
posição sentado e 10 tiros na posição deitado rápido;
Prova
7) Somatório das provas de precisão com 10 tiros
na posição em pé e 20 tiros na posição deitado
Prova
8) Somatório das provas rápido com a precisão (a
prova mais importante). O (Exército Brasileiro sempre
disputou com o Exército da Colômbia o primeiro lugar
durante anos desta competição).
No
próximo artigo veremos a parte técnica da competição
e os benefícios para o tiro militar brasileiro.
MEDALHAS INDIVIDUAIS DE CAMPEONATO
PAN AMERICANOS
(1970
-1971 – 1972 – 1973 – 1974)
1970 – Ferreira - 3º lugar individual