Eduardo Ferreira
(ferreiraedu@terra.com.br)


1950 - Provas de Fuzil de Guerra

1. CARACTERÍSTICAS DA PROVA

A modalidade Fuzil de Guerra foi muito concorrida no passado e já fez parte da programação dos primeiros Jogos Olímpicos. Juntamente com a prova de pistola livre, ela é considerada como uma das modalidades mais tradicionais do Tiro Esportivo e ainda hoje a prova é realizada em alguns países contando com muitos participantes.

A estréia da modalidade foi em 1910, durante o XIV Campeonato Mundial realizado na cidade holandesa de Loosduinen. Naquela competição os atiradores podiam disparar em qualquer posição, havendo premiação para cada posição. A primeira prova oficial ocorreu no ano seguinte, com 30 disparos (3 x 10), nas três posições tradicionais: em pé, ajoelhada e deitada, com premiação para cada posição. A partir de 1912 a prova passou a ser disputada com 60 disparos (3 x 20). 

O nome de fuzil de guerra foi dado devido à utilização do fuzil de serviço de cada país, sendo que as primeiras provas foram realizadas utilizando o fuzil do país organizador. Mais tarde, em 1966, foi permitido que cada país levasse para as provas o fuzil adotado pelas suas forças armadas. Isso porque houve significativas mudanças na construção de fuzis com calibres menores, sistemas de pontaria com miras fechadas e com coronhas e soleiras modificadas, mais parecidas com as carabinas standards. Era muito difícil distinguir o fuzil de guerra de um determinado país para um fuzil standard de outro país.

Na realidade o fuzil de guerra havia se transformado em fuzil standard por interesse de alguns países europeus, perdendo as antigas características como a mira aberta. Após observar as constantes e prolongadas discussões sobre o assunto, a UIT, na época, determinou que no 41º Campeonato Mundial de Thun, realizado em 1974, os fuzis deveriam conter as mesmas especificações da carabina standard, próprias para as provas de 50 metros, à exceção do calibre que não deveria ultrapassar os 8 mm e o peso do gatilho que não poderia ser inferior a 1500 gramas. 

 

2. PROVA DO CISM

Além de constar da programação das provas da Federação Internacional do Tiro Esportivo (ISSF), a prova de fuzil standard é disputada no tempo de 2 horas e 30 minutos, sendo ainda considerada como uma prova militar nos campeonatos promovidos pelo Conselho Internacional de Esporte Militar (CISM). Além da prova de fuzil precisão é disputada também a prova de fuzil rápido, com os tempos de 1minuto e 30 segundos na posição deitado e 2 minutos para as posições em pé e ajoelhado. O calibre mais usado atualmente é o 5.56 mm que além de manter a precisão dos antigos calibres, diminuiu o recuo, facilitando a retomada da posição no tiro rápido.

Em 2010 está previsto o Campeonato do CISM a ser organizado no Brasil, onde teremos a oportunidade de assistir os nossos atiradores militares disputando as provas militares.

 

3. PROVAS DE FUZIL DE GUERRA

As primeiras provas de fuzil de guerra realizadas no Brasil e que temos registros datam de 1909 e eram promovidas pela direção da Diretoria Geral do Tiro de Guerra no antigo estande da Vila Militar. Este estande possuía trincheiras a 100, 200, 300 e 400 metros e se destinavam ao tiro de instrução das topas sediadas na Guarnição da Vila Militar. O estande de arma curta possuía trincheiras de 25 e 50 metros. Outro estande utilizado era o da Quinta da Boa Vista com alvos situados a 300 metros

A partir de 1917, com a construção do novo estande na Vila Militar, várias provas de fuzil de guerra foram organizadas tanto pela DGTG como posteriormente pela nova Federação Brasileira de Tiro (FBT), criada em 1923. O armamento utilizado era o fuzil Mauser, calibre 7 mm, modelo 1908, recentemente chegados ao Brasil adquiridos da Alemanha. O fuzil modelo 1895 alemão também era utilizado, porém era considerado inferior ao modelo 1908.

Em 1927, o primeiro campeão brasileiro de fuzil de guerra foi Harvey Dias Villela, representando a Associação Metropolitana de Tiro ao Alvo (AMEA) com 435 pontos. O mesmo Villela, que em 1949 iria obter a medalha de bronze no 49º Campeonato Mundial realizado no estande do Tiro Federal Argentino em Buenos Aires, com 518 pontos, em fuzil livre. Foi a nossa primeira medalha conquistada em campeonato mundial.

Com a criação da Confederação Brasileira de Tiro ao Alvo (CBTA), em 28 de novembro de 1947, a diretoria reativou os campeonatos brasileiros, constando na programação provas de fuzil de guerra, que durou até 1972, quando foram substituídas por fuzil standard. Os maiores campeões foram Armando Pereira Braga e Marco Antônio Costa de Souza, com quatro títulos cada.

As provas de fuzil utilizando o Mauser 1908 ou o modelo 1935 se revestiam de fatos bastante pitorescos. Esses fuzis perdiam a precisão com relativa facilidade, tendo em vista o desgaste causado pelos projetis que eram feitos de cobre, assim é que, os melhores fuzis eram selecionados pelos calibradores que mediam o diâmetro da boca do fuzil e que deveriam ter de 6.98 até 7.02mm. Os fuzis com calibres acima de 7.02 já eram considerados com pouca precisão.

Outro fato bastante interessante nessa prova é que o atirador após a série de 20 tiros na posição deitado iniciava a operação de resfriamento do cano. Após retirar o ferrolho da arma colocavam água no cano pela câmara através de um funil com um cano de borracha. A água era escoada pelo cano e saía quente. Após essa operação tratava de secar o fuzil com estopa e em seguida colocavam óleo. A operação era repetida após a série de pé. Havia tempo suficiente para o resfriamento do cano, pois a prova tinha uma duração de três horas. Toda essa mão de obra do resfriamento era necessária, pois o aquecimento provocava uma dilatação do cano e em consequência a perda da precisão durante a prova. Não raro, ocorriam disparos na parte branca do alvo sem que o atirador tivesse cantado tiro ruim.

Assisti no início dos anos 50 uma dessas provas quando ainda não havia a cobertura dos postos de tiro, obrigando os atiradores a chegarem mais cedo para se proteger do sol, debaixo da única árvore existente. No início dos anos 60 o problema foi resolvido com a construção da cobertura.

Apesar de todas as dificuldades existentes, acrescida pelo fato de ter que transportar o fuzil da zona sul da cidade para Vila Militar, atravessar toda a Avenida Brasil, a prova era muito concorrida e lotava os 20 postos existentes com atiradores apaixonados por essa modalidade. Embora não tenhamos mais essa prova no calendário desde 1972, temos notícias que no Clube de Tiro Federal Argentino ainda são realizados campeonatos nacionais utilizando os velhos Mauser.

No Exército, os velhos fuzis Mauser foram substituídos pelo Fuzil FAL, calibre 7.62 mm, a partir de 1964, com sistema de pontaria melhor do que a mira aberta do Mauser, apresentando resultados melhores. Com o passar dos anos, o FAL acabou também sendo substituído pelo Garand M-14, pelo Winchester – modelo 70 e pelo fuzil suíço Tanner, calibre 5.56 mm de excelente desempenho.

A CBTE não promove mais essa modalidade, muito embora ela conste do programa de provas dos Campeonatos Mundiais.        

 


1974 - Campeonato do Exército – Belo Horizonte

 


1957 – PROVA DE FUZIL DE GUERRA - VILA MILITAR

 


1974 – CAMPEONATO DO EXÉRCITO - BRASÍLIA

 


por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação do DF, ex presidente das federações do RJ e CE, e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma Longa" e "História do Tiro"
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