Eduardo Ferreira
(ferreiraedu@terra.com.br)


1913 – TIRO DESPORTIVO NACIONAL

1. Tiro no Brasil
Há 100 anos o Tiro Desportivo no Brasil já existia e contava com vários atiradores associados à Confederação do Tiro Brasileiro (CTB), órgão máximo do Tiro Nacional e ligado ao Estado-Maior do Exército Brasileiro As provas nacionais eram realizadas no antigo estande de tiro do Exército, remodelado em 1917 e localizado na Vila Militar, onde hoje funciona o moderno Centro de Nacional do Tiro Nacional (CNTE), construído em 2007 para os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro e que conta com várias linhas de tiro para os praticantes do tiro de carabina, pistola, tiro ao prato e fuzil. Outro local para as provas de tiro era a rústica linha de tiro da Quinta da Boa Vista onde foram realizados os campeonatos cariocas da época.

Mas, como eram realizadas as provas naquele período?

Devido a grande distância em que se encontrava a Vila Militar do centro da cidade do Rio de Janeiro e as dificuldades de transporte, o atirador tinha que superar todos os obstáculos para participar das provas de tiro. Acordar muito cedo, enfrentar uma cansativa viagem de trem da Central até Deodoro, carregando um fuzil Mauser 7 mm às costas, envolto em uma capa protetora, luneta, funil para refrescar o cano com água, material de limpeza e alimento, em face da precariedade do lugar para encontrar refeição era a rotina do atirador de arma longa da época.

Tal como ocorre hoje, o atirador de arma curta tinha a sua prática mais facilitada, pois carregava apenas uma pequena maleta com revólver ou “pistolet”, como se chamava a arma de pistola livre antigamente, e munição além de uma luneta para a observação do tiro. As provas eram reduzidas com poucas séries para competir. Os marcadores eram recrutas do Exército devidamente instruídos por um sargento para auxiliarem na prova

O campeonato municipal de 1913 foi disputado no estande da Quinta da Boa Vista e o vencedor da prova de fuzil de guerra foi o atirador do Distrito Federal Rodolpho Kunding. Já o Campeonato Brasileiro de revólver, disputado na Vila Militar, foi vencido pelo então Aspirante à Oficial Guilherme Paraense, que mais tarde iria brilhar na conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos da Antuérpia de 1920. Somente possuímos no nosso arquivo os resultados de prova a partir de 1914.

As primeiras provas nacionais de tiro que temos notícia surgiram em 1909 na Vila Militar, Rio de Janeiro, onde se destacaram vários atiradores como o Dr. Fernando Soledade, Rodolpho Kunding, Alberto David Pereira Braga, Tenente Flávio do Nascimento, Capitão Fernando Vigarano e os gaúchos Sebastião Wolf e Dario Barbosa.
Na época somente o Clube de Tiro 4, localizado em Porto Alegre, possuía estande próprio que estava localizado no Tiro de Guerra No 4.

 


1913 - Aspirante a Oficial Guilherme Paraense vencedor da prova de revólver no estande da Vila Militar.


UIT

2. Tiro Internacional
No âmbito internacional, a União Internacional de Tiro (UIT) entidade máxima do Tiro, que nasceu sob forte influência francesa, organizou o 170 Campeonato Mundial de Tiro no “aberto” estande militar de Camp Perry, nos Estados Unidos. Foi a primeira vez que as provas Internacionais foram disputadas fora da Europa, graças ao grande esforço desenvolvido pela Associação Nacional de Rifle da América (NRA).

Em 20 de dezembro de 1912, a NRA escreveu para todas as Nações membros da UIT exprimindo sua calorosa recepção e oferecendo transporte da costa leste de Nova York até Camp Perry. O Presidente da UIT enviou uma carta de apoio à NRA, datada de 8 de janeiro de 1913, contendo um completo programa e divulgando os 42 eventos.

Uma vez mais a equipe da Suíça liderou a prova de fuzil livre e o seu atirador Conrad Staheli foi o único competidor entre as sete equipes participante a obter uma pontuação acima de 1000 pontos. Os Estados Unidos venceram a prova de pistola, derrotando as equipes da França, Suécia, Suíça e o recente admitido Peru. Eriksson da Suécia venceu a modalidade de fuzil de guerra.

Das dezessete nações membros, nove representantes estavam presentes na Assembléia Geral presidida pelo presidente Daniel Merillon. O México e o Peru foram admitidos e aceitos à UIT. Ficou acordado na ocasião que o campeonato de 1914 seria realizado na Dinamarca e que em 1915 ficou estabelecido que seria na Hungria.

Várias mudanças técnicas nas provas foram propostas e discutidas na Assembléia pela Comissão de Estudo presidida por Merillon e aprovadas pelo Comitê Técnico. Sete países apoiaram a proposta da mudança na freqüência dos campeonatos de não mais serem realizados anualmente, mas alternando-se os anos. Outros países discordaram devido a várias provas nacionais terem sido anteriormente agendadas em face da sua programação comemorativa. Merillon foi reeleito Presidente doa UIT para um mandato de mais três anos e com discursos de agradecimentos e felicitações pelo encontro, que durou cerca de duas horas, foi devidamente encerrada a Assembléia.

Os resultados do 170 Campeonato foram os seguintes:
a. Pistola Livre – 50m - 60 tiros
10 E. Carlberg (SUE) – 486
20 Alfred P. Lane (USA) - 486
30 Casimir Reuter Sikioeld (SUE) – 477
Equipe campeã: Estados Unidos: 2235 pontos


b. Fuzil Livre – 300m – 120 tiros
10 Conrad Staheli - (SUI) – 1030
20 Gaspar Widmer - (SUI) - 994
30 Mathias Brunner - ( SUI) – 985
Equipe campeã de Fuzil Livre: Suíça – 4959 pontos

c. Fuzil Militar – 300m – 60 tiros
10 M. Eriksson - (SUE) – 485


por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE e das Forças Armadas. Ex vice-presidente da CBTE e da federação do DF, ex presidente das federações do RJ e CE, e diretor das federações da PB e RS. Autor de "Arma Longa", "História do Tiro" e “Manual de Organização de Provas de Tiro”.
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