1913 – TIRO
DESPORTIVO NACIONAL
1.
Tiro no Brasil
Há 100 anos o Tiro Desportivo no Brasil já
existia e contava com vários atiradores associados
à Confederação do Tiro
Brasileiro (CTB), órgão máximo
do Tiro Nacional e ligado ao Estado-Maior do Exército
Brasileiro As provas nacionais eram realizadas no
antigo estande de tiro do Exército, remodelado
em 1917 e localizado na Vila Militar, onde hoje
funciona o moderno Centro de Nacional do Tiro Nacional
(CNTE), construído em 2007
para os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro e
que conta com várias linhas de tiro para
os praticantes do tiro de carabina, pistola, tiro
ao prato e fuzil. Outro local para as provas de
tiro era a rústica linha de tiro da Quinta
da Boa Vista onde foram realizados os campeonatos
cariocas da época.
Mas,
como eram realizadas as provas naquele período?
Devido
a grande distância em que se encontrava a
Vila Militar do centro da cidade do Rio de Janeiro
e as dificuldades de transporte, o atirador tinha
que superar todos os obstáculos para participar
das provas de tiro. Acordar muito cedo, enfrentar
uma cansativa viagem de trem da Central até
Deodoro, carregando um fuzil Mauser 7 mm às
costas, envolto em uma capa protetora, luneta, funil
para refrescar o cano com água, material
de limpeza e alimento, em face da precariedade do
lugar para encontrar refeição era
a rotina do atirador de arma longa da época.
Tal
como ocorre hoje, o atirador de arma curta tinha
a sua prática mais facilitada, pois carregava
apenas uma pequena maleta com revólver ou
“pistolet”, como se
chamava a arma de pistola livre antigamente, e munição
além de uma luneta para a observação
do tiro. As provas eram reduzidas com poucas séries
para competir. Os marcadores eram recrutas do Exército
devidamente instruídos por um sargento para
auxiliarem na prova
O
campeonato municipal de 1913 foi disputado no estande
da Quinta da Boa Vista e o vencedor da prova de
fuzil de guerra foi o atirador do Distrito Federal
Rodolpho Kunding. Já o Campeonato Brasileiro
de revólver, disputado na Vila Militar, foi
vencido pelo então Aspirante à Oficial
Guilherme Paraense, que mais tarde iria brilhar
na conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos
da Antuérpia de 1920. Somente possuímos
no nosso arquivo os resultados de prova a partir
de 1914.
As
primeiras provas nacionais de tiro que temos notícia
surgiram em 1909 na Vila Militar, Rio de Janeiro,
onde se destacaram vários atiradores como
o Dr. Fernando Soledade, Rodolpho Kunding, Alberto
David Pereira Braga, Tenente Flávio do Nascimento,
Capitão Fernando Vigarano e os gaúchos
Sebastião Wolf e Dario Barbosa.
Na época somente o Clube de Tiro 4, localizado
em Porto Alegre, possuía estande próprio
que estava localizado no Tiro de Guerra No 4.
1913
- Aspirante a Oficial Guilherme Paraense vencedor
da prova de revólver no estande da Vila Militar.
UIT
2.
Tiro Internacional
No âmbito internacional, a União
Internacional de Tiro (UIT) entidade máxima
do Tiro, que nasceu sob forte influência francesa,
organizou o 170 Campeonato Mundial de Tiro no “aberto”
estande militar de Camp Perry,
nos Estados Unidos. Foi a primeira vez que as provas
Internacionais foram disputadas fora da Europa,
graças ao grande esforço desenvolvido
pela Associação Nacional de Rifle
da América (NRA).
Em 20 de dezembro
de 1912, a NRA escreveu para todas as Nações
membros da UIT exprimindo sua calorosa recepção
e oferecendo transporte da costa leste de Nova York
até Camp Perry. O Presidente da UIT enviou
uma carta de apoio à NRA, datada de 8 de
janeiro de 1913, contendo um completo programa e
divulgando os 42 eventos.
Uma vez mais a equipe
da Suíça liderou a prova de fuzil
livre e o seu atirador Conrad Staheli foi o único
competidor entre as sete equipes participante a
obter uma pontuação acima de 1000
pontos. Os Estados Unidos venceram a prova de pistola,
derrotando as equipes da França, Suécia,
Suíça e o recente admitido Peru. Eriksson
da Suécia venceu a modalidade de fuzil de
guerra.
Das dezessete nações
membros, nove representantes estavam presentes na
Assembléia Geral presidida pelo presidente
Daniel Merillon. O México e o Peru foram
admitidos e aceitos à UIT. Ficou acordado
na ocasião que o campeonato de 1914 seria
realizado na Dinamarca e que em 1915 ficou estabelecido
que seria na Hungria.
Várias mudanças
técnicas nas provas foram propostas e discutidas
na Assembléia pela Comissão de Estudo
presidida por Merillon e aprovadas pelo Comitê
Técnico. Sete países apoiaram a proposta
da mudança na freqüência dos campeonatos
de não mais serem realizados anualmente,
mas alternando-se os anos. Outros países
discordaram devido a várias provas nacionais
terem sido anteriormente agendadas em face da sua
programação comemorativa. Merillon
foi reeleito Presidente doa UIT para um mandato
de mais três anos e com discursos de agradecimentos
e felicitações pelo encontro, que
durou cerca de duas horas, foi devidamente encerrada
a Assembléia.
Os resultados do 170 Campeonato foram os seguintes:
a. Pistola Livre – 50m - 60 tiros
10 E. Carlberg (SUE) – 486
20 Alfred P. Lane (USA) - 486
30 Casimir Reuter Sikioeld (SUE) – 477
Equipe campeã: Estados Unidos: 2235 pontos
b. Fuzil Livre – 300m – 120 tiros
10 Conrad Staheli - (SUI) – 1030
20 Gaspar Widmer - (SUI) - 994
30 Mathias Brunner - ( SUI) – 985
Equipe campeã de Fuzil Livre: Suíça
– 4959 pontos
c. Fuzil Militar
– 300m – 60 tiros
10 M. Eriksson - (SUE) – 485
por Eduardo Ferreira
Recordista e campeão brasileiro de armas
longas da CBTE e das Forças Armadas. Ex vice-presidente
da CBTE e da federação do DF, ex presidente
das federações do RJ e CE, e diretor
das federações da PB e RS. Autor de
"Arma Longa", "História do
Tiro" e “Manual de Organização
de Provas de Tiro”.
ferreiraedu@terra.com.br